Ontem no Jornal Gazeta do
Sul saiu uma matéria breve, mas interessante, falando sobre as marchinhas de
carnaval que seriam "politicamente incorretas" para os tempos atuais.
Quando li fiquei pensando o que seria "politicamente correto"
para os nossos tempos? Excluir as histórias do Monteiro Lobato do Ensino
Fundamental, bem como tirar o estudo de história dos currículos escolares é
negar quem somos, negar nosso próprio passado. Sempre penso que "não há
texto sem contexto" e por sermos seres narrativos, precisamos nos narrar
para que possamos nos compreender, para que possamos nos saber. Negar a
história real e ficcional, é abrir mão deste conhecimento que ampara quem
somos, que é fundante. Nesta mesma perspectiva vejo essa "polêmica"
das marchinhas de carnaval. Não cantar "teu cabelo não nega mulata"
não vai resolver o problema do racismo, não cantar "olha a cabeleira do
Zezé", não vai resolver as questões da homofobia. Parece-me que esta
questão joga é a poeira para baixo do tapete. Essa história de
"politicamente correto" parece, por vezes, mais negar os fatos
que amparam a história do que trazer para a discussão contextualizada questões
importantes de serem discutidas para que possam um dia ser superadas, sem negação. Não tocar marchinhas e tocar funk e sertanejo universitário não resolve o problema, só muda o problema de endereço. Talvez esse ano toquem:
"não sei se dou na cara dela ou bato em você/ mas eu não vim atrapalhar
sua noite de prazer/ e pra ajudar a pagar a dama que lhe satisfaz/ toma
aqui uns 50 reais", ou quem sabe: "A mulherada tá dançando,
sensual e gostosinha/ balançando, balançando, balançando a ''bacurinha'', ou
ainda: "Tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha, tô ficando
atoladinha, calma calma foguetinha". Talvez essas letras, que tem ocupado
cada vez mais nas festas de nossos jovens, sejam as que
irão "alegrar" os bailes de carnaval para fazer crescer o eco
dos politicamente incorretos de fato! Creio que é preciso repensar a sociedade como um todo, inclusive as marchinhas e o carnaval. Mas negar o passado, nunca!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário