Quando
as pessoas me perguntam se tenho um filho especial, sempre respondo que tenho
dois filhos especiais, mas um deles nasceu com uma grave lesão no cérebro.
Respondo assim porque é assim que consigo pensar a minha vida com meus filhos.
O João não é menos especial do que o Arthur porque tem habilidade para jogar
basquete aos 12 anos de idade. Nem o Arthur é menos especial do que o João
porque não consegue sustentar o pescoço sozinho aos 6 anos de idade. Com o João
eu vou ao cinema, eu jogo Uno, pife, Boogle Slam, assisto séries de aventura e
converso muito sobre o nosso cotidiano. Com o Arthur eu leio histórias, ouço
músicas e observo as suas reações a cada música que coloco, danço com ele no
colo, assisto Cocoricó e Gaby Estrella, porque são séries cheias de sons. Apresento
o mundo para os dois através do toque, do olhar, do brincar, dos sons e das
palavras. Os dois são diferentes, tem condições diferentes de experimentar, e
portanto, de conhecer o mundo. Mas nenhum é mais especial, por razão alguma.
Digo para eles todos os dias que eu tenho dois filhos preferidos, um
primogênito preferido e um caçulinha preferido. Não gosto de ser chamada de mãe
especial, embora saiba que as pessoas, quando assim se referem a mim, o fazem
cheias de bons afetos. Uma amiga me disse essa semana que eu tenho que ter paciência
com ela, que isso é algo que ela ainda tem que aprender comigo. Penso que
aprendemos juntos todos os dias, mas as pessoas com deficiência que convivem
comigo (e são muitas, por conta dos meus quase 21 anos de prática
fisioterapêutica), são especiais não porque possuem uma deficiência, mas porque
são pessoas incríveis, que me permitem aprender com elas, pela convivência amorosa
e amizade que me oferecem todos os dias que estamos juntas. Criança tem que ser
especial porque é criança. Adolescente tem que ser especial porque adolescente.
Adulto tem que ser especial porque é adulto. Precisamos ser especiais porque
ainda sabemos exercer a nossa humanidade, com todos, independente da sua
condição física, intelectual, da sua raça, raça, cor, orientação sexual, condição
financeira, entre outras possibilidades de classificação e segregação. Um mundo
onde todos são especiais é um mundo que dá condições de equidade para que
possamos conviver de forma mais amorosa e solidária.
Quanto
às crianças, há uma conhecida música do Palavra Cantada que diz faz um bom
tempo: “Criança não trabalha, criança dá trabalho”. Até onde sei, essa é uma
verdade para as crianças, todas elas, com ou sem deficiências motoras, físicas,
intelectuais ou sensoriais.
Nunca havia visto uma explicação tão boa de ser mãe. Mãe ama seus filhos e ponto. Não intereça se é feio ou bonito, mau humorado ou alegre demais, baixo ou alto, magro ou gordo. Afinal para todas as MÃES de verdade filhos são sempre perfeitos.
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