Na vida adulta,
para grande parte das pessoas, o objetivo principal do viver é trabalhar para amparar
a família ou se sustentar, ao menos nas nossas necessidades básicas de
alimentação, vestimenta e moradia, necessidades estas que precisam estar
atendidas para que possamos almejar saúde e educação.
Fomos e ainda
somos educados para crescer, trabalhar, comprar e viver comprando. Somos
educados mais para ter do que para ser. Talvez, por esta razão, quando
observamos pessoas que escolheram viver em comunidades, rapidamente vem o
pensamento: - Ah, mas eles vivem fora da realidade!! Mas, o que é a realidade? Será mesmo que a
realidade é uma só para todos nós? Será que a realidade do agricultor é a mesma
do homem da cidade, que trabalha engravatado num escritório? Será que a
realidade da professora é a mesma de uma estilista de moda? Você acredita que a
sua realidade é a mesma que a minha?
Podemos ver o
mesmo telejornal, assistir ao mesmo filme, ler o mesmo livro, comer a mesma
comida. Mas, por mais reais que todas essas situações sejam, viveremos
experiências diferentes, porque nosso modo de ser e estar no mundo, é percebido
de modos diferentes, a partir das nossas experiências prévias, das que nos
foram impostas e daquelas que escolhemos fazer. E isso é o suficiente para que
vivamos realidades distintas.
Quando visito uma
ecovila, uma comunidade, um coletivo de pessoas que escolheu viver diferente de
mim, sei que a realidade deles é outra. Nesses momentos, meu sentimento é quase
sempre o de que (puxa!!!) dá pra gente fazer diferente. Ao menos, quando temos aqueles
três elementos fundamentais do viver garantidos, é possível fazer escolhas.
Seria tão bom se, em vez de julgar quem vive diferente de nós, pudéssemos
aprender juntos. Penso que seria lindo se a experiência do outro pudesse ampliar
nosso modo de viver.
Há poucos dias
participei de uma imersão, com um grupo incrível de pessoas. A maior parte das
pessoas jamais havia se encontrado. Mas, tínhamos um desejo em comum, aprender
juntos sobre o narrar e o silenciar. Como tínhamos um objetivo que era de
todos, nos momentos de preparar o alimento, que era tarefa coletiva, ninguém
precisou dizer o que o outro tinha que fazer, organicamente os fazeres foram
acontecendo e assim, todos nos alimentamos, depois organizamos os espaços,
preparamos o café e voltamos ao círculo de estudos, sem que isso fosse um
grande esforço para um ou para outro.
Não seria lindo se
os viveres pudessem ser assim na escola, no trabalho, na casa? Não seria
maravilhoso se nossa vida fosse uma grande imersão no viver coletivo? Sim, isso
é utopia. Mas não é ela, a utopia, que nos faz andar em frente? Assim como um
mergulho revigora o corpo, imersões em realidades diferentes das nossas
revigoram o desejo de viver. Que o espirito de coletividade, que nos fez
humanos um dia, resgate nosso desejo de humanidade.
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