Durante uma
conversa, contei empolgada que havia comprado um processador manual para fazer
macarrão de legumes. Uma das pessoas que estava na conversa perguntou porque
razão uma pessoa com titulação acadêmica, que trabalha e tem independência
financeira, se interessaria em comprar eletrodomésticos e equipamentos de
cozinha. Dei a única resposta possível: É que eu gosto de cozinhar.
O filósofo alemão,
Arthur Schopenhauer (1788-1860), certa vez escreveu que “uma pessoa de raros
dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro
valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha”. Acho que meu
amigo desfruta, em certa medida, do pessimismo de Schopenhauer. O que os dois
não entendem, é que talvez, apenas talvez, se o trabalho útil não for
obrigatório, a pessoa que o executa possa encontrar algum prazer em realizá-lo.
Muitas vezes,
cumpro com os afazeres domésticos porque preciso, outras tantas, os faço por
puro prazer. Adoro preparar um bolo para receber um amigo. E nas férias, fico
inventando comidas diferentes, experimentando receitas, como uma criança que
brinca de casinha com lama, grama e pedrinhas. Nesses fazeres brincantes,
produzo meu próprio iogurte e atualmente aprendi a fazer minhas próprias kombuchas
(bebida produzida a partir de um chá fermentado). Não preparo meu iogurte e
minhas kombuchas apenas para economizar dinheiro, mas porque me dá
grande prazer acompanhar o processo, acertar o ponto do iogurte e da
fermentação do chá.
No final da década
de 1990, houve uma febre no mercado de brinquedos, produzida pelo surgimento dos
tamagotchis. O tamagotchi, era um bichinho de estimação virtual.
E a brincadeira, levada muito a sério pelas crianças, era cuidar do animalzinho
como se fosse real, dando-lhe carinho, comida, banho, todos realizados virtualmente.
Minha colônia de kefir (usada para o preparo do iogurte) e meus scobys
(cultura de bactérias e leveduras responsável pela gaseificação da kombucha)
são meus tamagochis. Preciso cuidar direitinho deles para que estejam
sempre saudáveis.
A gente pode
encontrar muitos modos de ser feliz com pequenas alegrias cotidianas. Há quem
goste de cuidar de plantas, de cultivar um lindo jardim, ou plantar suas
próprias hortaliças. Há quem teça toucas e sapatinhos de lã para seus netos ou
netos de outros. Há quem cuide de um ou muitos animaizinhos de estimação. Há
quem goste de ver a semente germinar e virar broto e quem aprecie colocar a mão
na massa para sovar o pão.
Todas essas
possibilidades são trabalhos úteis que, quando não realizados por obrigação,
podem trazer muita satisfação. Há também quem encontre satisfação mesmo quando
os realiza por obrigação e coloque em dúvida o pessimismo de Schopenhauer e do
meu companheiro de prosa.
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