Certa vez uma
aluna, na época com uns vinte e poucos anos de idade, me disse que nunca havia
sentado sozinha numa cafeteria ou num restaurante. Durante a conversa ela
contou que aquelas eram experiências que ela adoraria viver, mas que não tinha
coragem. Não era uma menina tímida ou que mostrasse dificuldade para
estabelecer uma boa conversa. Para ela, no entanto, era necessário coragem para
desfrutar da própria companhia em um lugar público.
Eu amo sentar na
companhia de um bom livro e uma xícara de café, numa cafeteria acolhedora.
Também adoro visitar novos lugares na minha própria companhia. Não gosto de
excursões, situações em que um monte de gente invade um espaço com hora marcada
para entrar e sair. Quando visito uma exposição, um museu, uma feira, gosto de
tempo, do meu tempo de observar, de cruzar olhares, de encontrar pessoas, de
conversar com estranhos. Há quem diga que é culpa do centauro que habita em
mim, por causa do meu signo. Se é por conta da constelação de sagitário ou da
criação terrena eu não sei. O que sei é que adoro sair e me levar para
passear. Vez ou outra também gosto de
ficar sozinha, quietinha no meu canto.
Desfrutar da
quietude da própria companhia é, por distintas razões, algo difícil para muitas
pessoas. Há quem não tolere o silêncio. Muita gente entra num elevador ou senta
no banco do ônibus e precisa logo puxar um assunto, não suporta o silêncio.
Parece que precisa dizer ao outro: - olha, eu estou aqui viu?!!
Você já
experimentou sentar no banco de uma praça para ler um livro ou uma revista?
Quem sabe ouvir uma canção em seus fones de ouvido? Ficar conectado em rede
social não vale, ali estamos em companhia de outras pessoas. Falo da
experiência de estar consigo, talvez na companhia dos personagens de um livro,
ou apenas admirando as flores, os pássaros, ou as árvores da rua.
Essa experiência
de estar bem na própria companhia, de desejar, por vezes, isolar-se
propositalmente, sem abrir mão de estar com outros quando assim desejar,
chama-se solitude. A solitude é uma experiência bastante diferente da solidão.
Como diz a música
do Alceu Valença, “A solidão é fera a solidão devora/ É amiga das horas
prima irmã do tempo/ E faz nossos relógios caminharem lentos/ Causando um
descompasso no meu coração”. A solitude, por sua vez, é a capacidade de
estar feliz na própria companhia. A solitude não nos devora, não desacelera o
ritmo das horas marcadas pelo relógio, também não faz descompassar o coração. A
solitude nos conecta, em maior ou menor medida, a nós mesmos.
A solidão é
imposta, a solitude é escolha. A solidão submete, a solitude ensina. Na solidão
as horas parecem não passar, na solitude podemos desacelerar, mas esta é uma
escolha pessoal. O poeta João Doederlein diz que solitude é “aquele momento do
banho no qual você bate um papo com si mesmo e chega a conclusões que nunca
seriam alcançadas numa mesa de bar”. Que tal aproveitar o final de semana para
partilhar alguns minutinhos com si mesmo?!!
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