A arte sempre fez
parte da minha vida, especialmente a música e literatura. Eu não toco nem
caixinha de fósforo, mas meu pai era um exímio guitarrista. A casa dos meus
pais sempre foi muito musical, meu pai ouvia rock instrumental, Beatles e
orquestras, minha mãe gostava de Roberto Carlos e Elis Regina. Eu virei o mix dos dois e vivi a
efervescência do rock nacional dos anos 80.
Minha banda favorita,
desde a adolescência, sempre foi a Legião Urbana. De todos os discos, Legião
Urbana Dois é o meu preferido. Na última faixa do Legião Urbana Dois, Renato
Russo canta, com sua voz grave: Quem me dera ao menos
uma vez/ Explicar o que ninguém consegue entender/ Que o que aconteceu ainda
está por vir/ E o futuro não é mais como era antigamente// Quem me dera ao menos
uma vez/ Provar que quem tem mais do que precisa ter/ Quase sempre se convence
que não tem o bastante/ Fala demais por não ter nada a dizer.
Legião Urbana é tão anos
80 e tão 2020 que nem sei explicar. Nem precisa de explicação, é só cantar,
pensar e sentir. Legião Urbana não é incontestável, mas é real demais. E ser
real demais em tempos de falsas verdades, é um perigo. Talvez, por esta razão,
tenta-se desacreditar a arte, a educação, a ciência, bem como os artistas, os
educadores e os cientistas.
Que mundo bacana seria
este se nossos jovens aprendessem a ler e compreender o que leram em livros,
letras de músicas e obras de arte. Se esse exercício de ler e conjeturar, ouvir
e discutir, observar e refletir, fosse uma constante na vida cotidiana de
nossas crianças e jovens, seria suficiente para que soubessem distinguir
realidade de ficção, metáfora de pensamento concreto, verdades de falsas verdades.
Em 2016 o
Dicionário Oxford cunhou um termo que resume esses tempos estranhos e
paranoicos que andamos a viver no Brasil e no mundo. A pós-verdade (post-truth), diz o Dicionário Oxford,
“relata ou denota circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência
na opinião pública que o apelo às emoções e às crenças pessoais”.
Em tempos de Fake
News já não importa que a notícia veiculada seja falsa, contanto que ela se
encaixe no que eu acredito, naquilo que eu sinto que deva ser a verdade. Penso
que essa é a síntese da pós-verdade. No mundo da pós-verdade já não são os
fatos que organizam as coisas e sim as percepções e os sentimentos, por mais
absurdos que eles possam ser.
Na época da
pós-verdade, não há como contestar qualquer argumento com fatos ou evidências
científicas, uma vez que esta se sustenta em achismos e não em evidências. A
pós-verdade tornou o diálogo impossível. O mundo evoluiu até aqui com a ciência
porque ela é questionável, porque suas verdades não são absolutas. Mas no mundo
da pós-verdade, se eu achar que é, então é. E não há como contradizer isso, pois
eu não preciso provar nada, preciso apenas sentir que algo é verdade. Tudo que
a pós-verdade não é, é libertadora.
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