Sempre que o ano
escolar chega ao fim me pego pensando se, como professora, ensinei tudo que era
necessário, se aprendi tudo que podia na partilha com os alunos. Se ouvi suas
perguntas de modo verdadeiramente atento e se o fiz da melhor forma que pude.
Será que os desafiei o suficiente? Será que respeitei satisfatoriamente suas
subjetividades? Será que abracei quando necessitavam do meu abraço? Será que
fui suficientemente boa como professora?
É muito provável
que não. Ou, ao menos, que não tenha sido satisfatoriamente suficiente para
todos. É fato que quem somos, como profissionais, vai além de nossas
habilidades e competências técnicas, científicas e afetivas. Somos também o que
os outros projetam sobre nosso ser e nosso fazer. É por isso que coletivamente,
nunca seremos percebidos da mesma forma pelos indivíduos de um grupo. Embora o
nosso fazer seja um só em determinado momento, as percepções sobre ele não são coletivas,
mas individuais.
No ambiente
escolar, por exemplo, um professor dá a mesma aula para um grupo de alunos. Ao
final da aula, alguns estudantes terão aproveitado e aprendido mais e outros
menos. A razão disso pode ser muitas. Um estudante pode, naquele dia, estar com
dificuldade de manter-se atento, pois está passando por uma situação pessoal
delicada, ou porque precisou trabalhar até mais tarde e está com sono, ou
porque não aprecia aquela temática, ou porque a metodologia escolhida não foi
adequada para o seu modo de aprender.
Um outro estudante,
por sua vez, pode estar bastante atento, seja porque se identifica com o tema,
ou com o professor, ou porque o professor propôs uma metodologia diferente que
o motivou, ou porque é muito competitivo e quer tirar a melhor nota. As razões
para aprendermos mais e melhor, ou com maior dificuldade, são inúmeras.
Todas estas
questões interferem nos processos de ensinar e aprender que, ao meu ver, é
sempre uma via de mão dupla, tanto para o ensinante quanto o para aprendente,
dentro e fora da escola. Desde pequenos ouvimos que “quando um não quer dois
não brigam”. Isso é real em muitas instâncias do viver, inclusive para ensinar
e aprender. Para que uma aula seja bacana, para que o aprendizado aconteça, é
preciso que este seja um desejo de todos, é necessário que todos se
comprometam.
Ensinar e aprender
são verbos a serem conjugados no coletivo, não é possível vivê-los de forma
platônica. Não se ensina, nem se aprende na vida apenas observando, sem se
aproximar, sem experimentar, sem interagir com as pessoas, as ideias, os
objetos, a natureza. Estes dois verbos só (co)existem quando conjugados
coletivamente, no viver cotidiano, dentro e fora das salas de aula. Ensinar é
tarefa de todos que se colocam na vida de modo afirmativo e desejoso. Aprender
é consequência da interação mútua, nos múltiplos espaços do viver.
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