Quando meu filho
encontrava-se hospitalizado, sempre o acompanhava nas internações, além das
roupas, fraldas e remédios, seu bonequinho de pano, seus DVDs musicais e seus
livros preferidos. Apesar de toda limitação física, que lhe impossibilitava
falar como outras crianças, ele conseguia se comunicar muito bem. A palavra,
ainda que não fosse expressa verbalmente, estava nele, pois a linguagem sempre
foi estimulada, através de diálogos, canções, histórias.
Sua última
internação hospitalar durou 65 dias. Foram 65 dias de histórias e canções, de
celebração da vida e partilha de afetos. Naqueles 65 dias, por mais difícil que
fosse a sua situação, através dos vidros daquele imenso aquário que é uma UTI
Pediátrica, eu partilhava da luta de outras mães e de outros bebês. Partilhava
das lutas, das dores, das conquistas e das perdas. Muitas vezes olhava para
aqueles bebês tão pequenos e tão frágeis. Olhava para seus pais, que esperaram
tanto pelo momento de sua chegada, para pegar o filho no colo e acarinhar. E
tudo que podiam fazer era olhar e sentir, raramente tocar.
No meu lado do
aquário, quando me sentia impotente, eu cantava e contava histórias. Sabia que,
quando a minha mão não podia tocar, minha voz podia. O tato é um sentido
importante, quase sempre acarinhamos tocando a pele do outro. Mas a audição também
é um sentido, assim como o paladar, a visão, o olfato. Contar histórias é um
ato de carinho, um modo de cuidar, um laço que enlaça o bem querer entre duas
ou mais pessoas.
Contar histórias, ler
poesias, cantar canções, além de acarinhar os sentidos e aproximar as pessoas,
podem produzir sentidos para a vida. Só temos certeza do aqui e agora, por
isso, devemos saber viver o tempo presente do modo mais significativo, intenso
e amoroso que podemos.
Naqueles 65 dias
vivi intensamente o aqui e agora. Mas, era difícil ver outras mães sem poder
tocar, alimentar, aconchegar seus pequenos. Foi então que pensei que se
tivessem livros ao alcance das mãos, poderiam ler para seus bebês. Se, naquele
momento, embalar no colo não era possível, poderiam embalar com palavras, com
sons, com melodias. Histórias e poesias poderiam conectar pais e bebês de uma
forma mais leve, ajudando a superar a dureza das horas dentro de uma UTI.
Foi assim que
surgiu a ideia de um espaço para disponibilizar livros, portais para outros
mundos, onde pais e bebês podem viver momentos mais leves e divertidos, onde o
carinho e o embalo de um colinho, podem chegar de outros modos, por outros
sentidos, estreitando laços, fortalecendo vínculos.
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