Certa vez, quando
meu filho tinha uns 10 anos de idade, eu levava ele e dois amigos para o treino
de futebol e passei no sinal amarelo. Em seguida, os três meninos, sentados no
banco de trás, começaram a falar sobre o fato de que o sinal amarelo existe
para informar que devemos diminuir a velocidade, mas que os adultos costumam
pisar mais forte no acelerador quando percebem o sinal amarelo. Os três
seguiram boa parte do caminho “filosofando” sobre o assunto. E eu, bem
quietinha, no banco do motorista, pensando que nós, pessoas grandes, devemos
ouvir mais as crianças.
O ano está em sua última semana e o número de acidentes de trânsito
aumentou vertiginosamente antes mesmo do Natal. Todo mundo correndo, nas
estradas, nas calçadas, no cotidiano, numa pressa interminável para dar conta
de coisas que haviam sido esquecidas, ou deixadas de lado, durante o ano todo.
Veja bem, se não fizemos algo durante boa parte do ano é porque não deveria ser
algo tão urgente. E se não o foi ao longo das outras 51 semanas do ano, porque seria
urgente agora?!
A coisa mais importante que deveríamos fazer ao chegarmos ao fim de mais
um ano vivido é avaliá-lo. Pensar no que foi bom e acrescentou, no que não fez
diferença para nós e no que nos fez mal, para que possamos projetar o próximo
ano melhor, para que não comecemos um novo ciclo repetindo os mesmos velhos erros.
O ano que se encerra foi um ano marcado pelo aumento da violência de
todos os tipos, pela falta de diálogo, pelos ataques verbais, pelas palavras
mentirosas jogadas ao vento, sem pudor, sem medida, sem medo das feridas que
abririam. O ano que se encerra marcou um capítulo ímpar na história da desumanização.
Notícias falsas tomadas como verdades, dogmas apontados como modelo de moral,
retrocessos disfarçados de avanços, desrespeito mascarado de ética, gentileza
jogada no lixo.
O semáforo da esquina entre 2018 e 2019 está com o sinal amarelo. É hora
de pisar no freio, desacelerar e ouvir mais as crianças. É hora de repensar a
vida, de pensar como queremos entrar 2019. O ano que se aproxima promete ser de
muitos desafios. Talvez não possamos mudar as ordens que causarão desordem, mas
podemos escolher como nos colocar frente aos desafios impostos. Podemos
escolher quanto de energia queremos despender com cada desafio e também quais
lutas cotidianas iremos travar.
Se é para errar, que possamos ser criativos e errar diferente, errar
novos erros. Para isso é preciso avaliar os próprios tropeços e ter senso
crítico, sem perder a doçura para consigo e com os que nos cercam. Que em 2019
prevaleça a gentileza, a cultura, a arte, a leitura literária, a imaginação, a
criatividade, a comunicação não-violenta, a empatia e o respeito por todas as
diferenças!! Que em 2019 sejamos um pouco mais humanos!!
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