Quando o Arthur, meu filho mais novo, nasceu,
o primeiro lugar para onde foi levado, foi a UTI Neo Pediátrica do Hospital
Santa Cruz. Foi lá que começamos a nos conhecer. E foi lá que fomos descobrindo
juntos que a vida não seria exatamente como tínhamos planejado, que teríamos
que replanejar, ou melhor, aprender a não planejar. Aprendemos também que nossa
rotina seria meio fora da rotina.
Nestes 8 anos de vida do Tutuks, voltamos várias
vezes para a UTI e outras tantas para a enfermaria, a fim de tentar minimizar suas
tempestades cerebrais. Junto com o Tuks, conheci muita gente bacana, médicos,
equipe de enfermagem, nutricionistas, equipe da copa, do lactário e da higienização.
Conhecemos também muitas mães, especialmente mães de bebês pequenininhos e frágeis,
bebês que tiveram pressa para nascer. A gente vive uma rotina diferente da
nossa quando estamos no hospital, mas como moramos na mesma cidade, temos pai,
irmão, babá, amigos, família, um montão de gente perto pra ajudar a resolver a
vida. Mas muitas mães de bebês apressados vêm de longe, não tem ninguém pra
partilhar as angústias, o cansaço, a rotina. Aprendi - aprendemos eu e o Tutuks
- ao longo desses anos, que quando cabeça de mãe fica cansada, muitos
pensamentos que não são legais passam por lá. Por isso leio histórias, leio
muitas histórias e ouço muitas canções, para que estejamos eu e o Arthur (assim
como foi, como é, com o João – meu filho mais velho) conectados amorosamente.
Num desses dias de internação, que já são
muitos, quase seis semanas, fui contar histórias para as crianças da Ala Pediátrica
e a equipe da UTI me pediu para contar para elas também. Contei para equipe de
enfermagem e para as mães. Depois conversamos um pouco e falei de como é
importante para mim contar histórias para meus filhos, de como sinto que as
histórias me colocam numa conexão bacana com eles. Sugeri que elas poderiam fazer o mesmo.
Histórias que embalam, como o colo que gostariam, mas ainda não podem dar a
seus pequenos. Mas como sugerir que contem histórias sem livros?
Foi então que
nasceu a ideia de criar uma pequena biblioteca, onde livros infantis e contos
pudessem estar à disposição das mães, dentro do espaço que dá acesso à UTI e à
UCI do Hospital Santa Cruz, para que possam ler para seus pequenos. A ideia
brotou com uma certa urgência, porque as mães estavam ali agora. Conversei,
troquei ideia, articulei e nasceu o Espaço Era Uma Vez, com todos os cuidados
tomados para a higienização dos livros. Agora, pais e mães podem contar
histórias para seus pequenos e estarem mais próximos, mais conectados física e
amorosamente, criando memórias afetivas desde muito, muito cedo.
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