Alguns meses atrás
presenteei uma criança com um DVD de músicas infantis que eu adoro. Naquela
tarde presenciei (quase envergonhada) a expressão de perplexidade de muitos
convidados da festa. Afinal, quem, na segunda década do século XXI, ainda
presenteia com CDs ou DVDs? Neste sentido, os livros ainda estão em vantagem, pois
são recebidos com menor espanto e algum carinho. Particularmente, aprecio a
materialidade dos afetos e gosto de presentear com aquilo que me faz bem. Penso
que se me minha experiência com um objeto me traz aconchego, deverá levar
também a quem eu com ele presentear.
Gosto de
artesanato, de objetos que tem assinatura ou que contam histórias. Poucos dias
atrás fui num bazar organizado por uma amiga que vai se mudar e estava dispondo
de roupas, bijuterias, livros, CDs, móveis, coisas que não iria levar junto. Cada
objeto que escolhi evocava memórias, produzia sensações, mas também fortalecia
nosso laço, pois era um pedacinho da vida de minha amiga do qual agora eu seria
guardiã. Toda vez que eu escutar aquelas músicas, usar aquele lenço, aquele
colar, estarei em conexão direta, afetiva e amorosa com ela. Não são apenas objetos, são pedacinhos de
memória, relicários de nossa amizade.
Há uma grande
diferença entre ser acumuladora e guardar objetos repletos de significados. Guardo,
entre minhas memórias afetivas materializadas, o vestido de bruxa que usei no
Jardim de Infância, num desfile de sete de setembro; a revista do Menudo (boy
band na minha geração), que tanto fiz para convencer meu avô a me dar o
dinheiro para comprar; o recorte da Revista Veja (1984) que noticiava o lançamento de “Verdes Anos”, produção
cinematográfica gaúcha que foi fundamental na minha adolescência, guardo também
ingressos e cartazes de shows e de filmes, materialidades que me lembram de
quem sou e que resgatam memórias, momentos, pessoas.
Em nossas vidas,
podemos abrir espaço para o novo, sem abrir mão das nossas lembranças, aquelas
que nos alimentam, que nos mantém inteiros, que nos fazem bem. Amadurecer nos
afetos, nas relações, no modo de pensar, não significa negar o passado ou
deixá-lo de lado, mas seguir em frente, levando com a gente tudo aquilo que nos
faz sentido e que podemos carregar.
Nossas memórias
sinalizam quem somos, especialmente quem somos para nós mesmos. Alguns objetos
ajudam a manter nossa memória viva e não há razão para nos separarmos daquilo
que nos faz bem, sejam objetos, canções, pessoas, emoções. Amadurecemos quando, apoiados nas nossas
vivências, andamos em frente ressignificando e não negando o passado. A negação
da nossa história, pessoal ou coletiva, nos faz tropeçar nos mesmos erros e não
sair do lugar. Por isso, museus e narrativas (pessoais ou coletivas) são
fundamentais para que a história não se perca e para que possamos seguir rumo a
novas memórias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário