O Brasil vai
sendo, pouco a pouco, novamente tomado pelo medo, por muitos medos plantados
intencionalmente por teorias conspiratórias, que chegam tão seguras de si aos
ouvidos, que nem são questionadas. É impossível refutar uma teoria
conspiratória, diz Henry Bugalho, pois toda vez que argumentações, fatos e
dados contrários à tese conspiratória são apresentados, eles passam a fazer
parte da própria conspiração.
E assim caminha a
humanidade, entre teses conspiratórias lelés e pessoas com uma habilidade
leitora precária, que não lhes permite compreender que todo texto tem um
contexto, que a verdade não é tudo aquilo que se lê ou se ouve nas mídias e
redes sociais, ainda que por pessoas diplomadas e elegantes, mas sem ética e senso
crítico.
Que a educação
brasileira enfrenta problemas não é novidade, mas vínhamos numa caminhada de
autonomia do pensar, que aos poucos qualificava o fazer pedagógico e os
processos de ensinar e aprender. Os principais problemas da educação no Brasil
eram (e são) a qualificação e formação profissional, a má remuneração dos
professores e a precarização do espaço físico das escolas. E quando falo de
nossas escolas, falo de todas, da Educação Infantil à Universidade.
Como qualificar
melhor professores sem uma remuneração razoável que lhes dê acesso a bons
livros e revistas, sem boas Universidades, sem equidade de condições de acesso
à Universidade? Como qualificar bem os professores, assim como médicos,
engenheiros, veterinários, entre outros profissionais, sem uma educação que
lhes ensine a pensar, a ser curiosos, questionadores, pesquisadores?
Uma educação de
qualidade se faz com um projeto de nação e não sem, nem ao menos, um projeto de governo. Uma
educação de qualidade se faz olhando para o futuro e não para o próprio umbigo.
Uma educação de qualidade se faz ampliando o olhar e não colocando antolhos.
Uma educação de qualidade é plural, questionadora, desacomoda. Uma educação de
qualidade não coloca medo, não cala, nem reprime.
Precisamos de uma
educação que vá muito além do ensinar a ler, escrever e fazer contas, que nos
ensine mais do que apertar parafusos e bater martelos, que nos torne algo mais
do que “pessoas capazes de fazer e incapazes de pensar sobre aquilo que fazem”,
como escreveu Jane Tutikian, Vice-Reitora da UFRGS.
É surreal que
estejamos vivendo tempos de tamanho desdém pela educação e pela cultura e de
desrespeito por seus profissionais. Esse ataque às ciências humanas, aquelas
que nos ensinam a pensar e fazem de nós seres racionais e reflexivos, muito
mais do que fazedores de contas, é feito por pessoas que tem medo dos questionamentos,
gente que não têm argumentos razoáveis e que ao não encontrarem argumentos,
apelam para palavras chulas, xingamentos e truculência.
Não é preciso
coragem para rosnar, nem grande quantidade massa encefálica. Mas há que se ter
muita coragem para ler e saber o que leu, para questionar, para argumentar,
ponderar, conviver em sociedade. Essa coragem não é aprendida com armas e
imposições, mas com diálogo e pensamento crítico. As ciências, todas elas, mas
especialmente aquelas que nos fazem melhor compreender o humano em nós, são
ferramentas poderosas, por isso causam tanto medo. Mas há quem escolha seguir a
vida a pensar, corajosamente. Com essa coragem que, como diz Mario Sergio
Cortella, não é feita de ausência de medo, mas da capacidade de enfrentar o
medo que anda a nos ameaçar.
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