“O hábito de ler é
o que nos torna mais humanos”, anuncia o texto que começo a ler durante a
madrugada fria de outono. Antes mesmo de iniciar a leitura, penso no fato de
que somos a única espécie viva deste planeta que possui a capacidade de ler e
narrar-se.
Ao deitar meus
olhos sobre a tela do computador descubro que um estudo publicado na revista Science, em 2013, apontava que pessoas
que tem o hábito de ler obras de ficção, ou seja, histórias inventadas, como no
caso de romances, tendem a compreender
melhor as diferenças entre os seres humanos.
Pouco tempo depois,
outra pesquisa verificou como é poderosa a relação entre leitura ficcional e a
empatia. Neste segundo estudo, alguns participantes foram convidados a ler um
conto da autora paquistanesa Shaila Abdullah, intitulado Saffron Dreams, enquanto outros foram apenas informados sobre como
a história se desenrolava. Em seguida, foram apresentadas aos participantes dos
dois grupos, fotografias de olhares de pessoas diferentes - e os participantes
foram estimulados a deduzir o que cada um dos fotografados estava pensando e
sentindo.
Observou-se então,
ao comparar as respostas dos dois grupos, que os participantes que leram o
conto viam com empatia semelhante os rostos de pessoas árabes e de pessoas
brancas. O que nos faz pensar que ler narrativas ficcionais favorece o
aprendizado da alteridade, do respeito às diferenças, características tão
fundamentais para vivermos em sociedade.
Abril é um mês
repleto de datas que lembram a importância do hábito de ler e celebram a vida
humana. Se é verdade que o hábito da leitura literária nos torna mais humanos,
faz sentido pensar que o afastamento do texto literário, do jogo lúdico de
palavras, do imaginário, nos desumaniza e embrutece.
Somos seres
narrativos. Somos as narrativas que nos constituem, aquelas que fizeram parte
do nosso imaginário desde a infância, as que ouvimos outras pessoas falar a
nosso respeito, as que criamos de nós mesmos a partir de tudo isso. Somos nossa
própria ficção. A minha realidade, a sua realidade, é aquela narrativa que
tornou-se mais potente, que fez mais sentido e que deu mais sentido à vida de
cada um. O hábito de ler enriquece nossa própria narrativa e qualifica o humano
em nós. Sendo assim, é bastante razoável dizer que o hábito de ler nos torna
mais humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário