Assistimos
a vida, muitas vezes, como assistimos a um filme. Interpretamos os
acontecimentos da vida real como obra de ficção. Nos emocionamos com grandes
tragédias do mesmo modo como nos emocionamos com dramas e romances. Somos
capazes de nos comover com tragédias reais, aquelas que nos chegam pelas telas
de TV, computadores e celulares, mas assistimos às notícias como se fossem obra
de ficção, a não ser que tenhamos sido tocados pessoalmente por elas, sentindo
no próprio corpo a dor da perda de uma pessoa querida.
Essa
semana assistimos, mais uma vez, perplexos ao rompimento de uma barragem que
destruiu vidas e ecossistemas, em Minas Gerais. Uma tragédia que alterou destinos,
um episódio que, ainda que haja responsabilização e indenizações, não há
dinheiro que possa reparar a perda. Assim foi com o incêndio da Boate Kiss, em
Santa Maria (RS), assim foi com o rompimento da barragem em Mariana, em Minas
Gerais (RS). Os seres humanos parecem não aprender com os próprios erros, nem
mesmo se responsabilizar por eles. O lucro ainda fala mais alto do que a vida
humana.
A grande
maioria dos brasileiros acredita que se votar de quatro em quatro anos para
compor os governos federal e estadual, intercalando a cada dois anos com as
eleições municipais e que, se além disso, pagar seus impostos - muitos nem isso
fazem -, suas obrigações como cidadãos foram cumpridas. Não nos
co-responsabilizamos por tornar essa sociedade mais justa para todos, ainda
pensamos a partir do nosso próprio umbigo e vamos só até onde nosso olho e
nosso bolso alcança. Mas a vida é maior do que isso.
Toda
vez que uma tragédia dessas ocorre, todos nós temos uma parcela de culpa. Não
basta votar e delegar ao poder público a responsabilidade por cuidar do que é
nosso, pois até mesmo o poder público busca, cada vez mais, terceirizar suas
responsabilidades. Há o tanto que nos cabe, há muito desse tanto que nos cabe.
Cada
vez que alguém joga um papel de bala, uma latinha ou garrafinha plástica no
chão, é porque não se co-responsabiliza pelo meio ambiente e com a vida. Cada
vez que alguém joga lixo no terreno baldio, é porque não se co-responsabiliza
pelo meio ambiente e com a vida. Cada vez que alguém não separa o lixo, é
porque não se co-responsabiliza pelo meio ambiente e com a vida. Cada vez que
não cobramos dos governantes, em todas as esferas de governo, uma política de separação e reciclagem de lixo, é porque não
nos co-responsabilizamos pelo meio ambiente e com a vida.
Cada vez que alguém vota num representante que não
se compromete em preservar o meio ambiente e suas reservas, bem como com a vida
como um bem maior de todos e para todos, é porque não se co-responsabiliza
pelo meio ambiente e com a vida. Todos somos
responsáveis. As vidas que se perderam em Brumadinho, em Mariana, em Santa
Maria e as que se perdem nas pequenas tragédias cotidianas são irreparáveis,
mas fazer valer a legislação e punir os responsáveis pode salvar outras vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário