Uma sociedade
razoável, penso eu, é aquela em que as pessoas se respeitam. As pessoas não
precisam se gostar, mas precisam se enxergar e ter alguma empatia, o que
implica em olhar para além do próprio umbigo. Não é possível
desenvolver empatia quando você pensa que o seu problema é o maior de todos.
Pouco antes do
Natal foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, um Projeto de Lei que prevê
que pais com filhos pequenos estacionem em vagas especiais destinadas a pessoas
com deficiência e mobilidade reduzida. Quando
compartilhei a notícia, fiquei perplexa com o fato de muitas pessoas acharem a
ideia ótima.
Algumas disseram que eu
não sabia o que era precisar levar um filho ao pediatra em dia de chuva e não
ter vaga perto para estacionar. Na verdade, eu sei. Por sinal, sei o que é ter
um filho atleta e outro com uma deficiência motora grave. Conheço os dois lados
da moeda. Sei também que as pessoas com deficiência não podem deixar sua
deficiência em casa em dias de chuva, carregam ela em seus corpos durante as
quatro estações do ano, faça chuva ou faça sol.
Repito, não é possível
desenvolver empatia quando você pensa que o seu problema é o maior de todos.
Veja bem, uma mãe que precisa levar um filho ao pediatra num dia de chuva e não
tem carro, precisará pegar um ônibus, com um bebê num braço e um guarda-chuva
no outro. Situação muito mais complicada do que a da mãe que tem um carro, ou tem
dinheiro para pegar um táxi neste dia, porque não irá chover em todos os dias
de consulta médica, também porque seu filho irá crescer e não precisará ir ao
pediatra todos os meses, porque em poucas semanas ele conseguirá sustentar o
pescoço sobre os ombros e em alguns meses estará segurando no seu pescoço e
logo mais estará caminhando.
É no mínimo
incoerente se emocionar com a propaganda de Natal d’O Boticário e estacionar em
vaga reservada para idosos e pessoas com deficiência; se comover com o discurso
em libras da primeira dama e não diminuir a velocidade na faixa de pedestres,
para permitir que pessoas com menor mobilidade passem com segurança; se enternecer
assistindo “Como eu era antes de você”, “Extraordinário”, “Intocáveis”, entre tantos
filmes que tratam da temática das deficiências, e deixar seu filho usar
inadequadamente os poucos brinquedos para crianças com deficiência que têm na
praça de sua cidade (isso se houver).
Inclusão fala sobre o respeito à igualdade de acesso e de direitos. Inclusão não é impor nossas regras e nosso modo de ver e viver no mundo aos outros. Quando se fala em inclusão, esta deve ser a inclusão de todos e não apenas daqueles que eu gosto, das deficiências que menos me perturbam, das etnias que mais me agradam. A inclusão não pode ser excludente.
Inclusão fala sobre o respeito à igualdade de acesso e de direitos. Inclusão não é impor nossas regras e nosso modo de ver e viver no mundo aos outros. Quando se fala em inclusão, esta deve ser a inclusão de todos e não apenas daqueles que eu gosto, das deficiências que menos me perturbam, das etnias que mais me agradam. A inclusão não pode ser excludente.
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