Alguns talvez pensem que perdi a razão,
por tecer narrativas ficcionais para acomodar os sentimentos da partida do
filho. Mas loucos, em sua maioria, criam narrativas desconexas. Eu busco
conexão através das narrativas, teço algumas, crio outras.
Somos seres narrativos,
buscamos sempre explicações que nos façam sentido e que deem sentido às nossas
vidas, seja no campo da mitologia ou da ciência. Precisamos de algo que faça
sentido, sempre. Mesmo que esse sentido só seja razoável para nós mesmos.
Quando as circunstâncias da
vida podem abalar o sentido da própria vida, os pensamentos ficam a girar
dentro da cabeça como num furacão. Particularmente, preciso de narrativas que
aquietem o meu furacão interno e me deem sentido, me apontem um norte.
Quando digo que meu filho partiu
para se aventurar em Nárnia, em Avalon, ou no País das Maravilhas, não estou
sendo louca, nem delirando, nem perdendo a razão. Estou sim, buscando uma razão
que permita deixa-lo partir com alegria. Seria diferente se eu falasse no
paraíso? Para mim ainda seria uma construção narrativa em busca de algum
sentido.
Pois bem, busco narrativas
que façam sentido, que me apontem nortes razoáveis. Você até pode pensar: - Mas
isso é ficção! Pois saiba que o cérebro humano em algumas situações tem uma dificuldade
enorme para diferenciar ficção e realidade.
Quem já experimentou um
episódio agudo de labirintite sabe do que estou falando. Num episódio de
vertigem, o cérebro não sabe se as coisas estão a girar de verdade ou de
vertigem. O cérebro informa ao corpo que tudo gira e o corpo responde com
náuseas, alteração dos sinais vitais, suor, mal-estar. O corpo apenas responde
às informações, ainda que ficcionais.
Então,
pensar em narrativas que façam sentido, ainda que ficcionais, aquieta o pensar,
acalenta a alma, acalma o corpo, permite o viver de um modo mais razoável e
feliz.
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