Quando um filho nasce, a
vida inteira se modifica, é preciso reorganizar rotinas, aprender novos hábitos
e abrir mão, ainda que por algum tempo, de alguns hábitos antigos.
Quando um filho nasce, nasce
uma mãe e um pai. Ser pai e ser mãe é um aprendizado constante, de uma vida
toda, porque os filhos crescem, aprendem, se modificam e nós crescemos,
aprendemos, nos modificamos junto com eles.
Quando um filho cresce, cria
asas e, por vezes, quer voar para longe dos pais, descobrir novos lugares,
viver novas aventuras.
Na adolescência, alguns pais
incentivam seus filhos a participar de intercâmbios, para que conheçam outras
culturas, aprendam novas línguas. Na vida adulta, alguns viajam para fazer cursos,
estágios ou em busca de oportunidade de trabalho em outros países.
Esperamos, como pais, que esses
afastamentos aconteçam de maneira progressiva e apenas depois dos filhos já um
pouco crescidos. Essa semana um filho partiu e sem respeitar cronologia alguma,
até porque o seu tempo não se contava como o nosso, nem suas viagens eram
óbvias como as nossas.
Em oito anos de vida o
Arthur viveu mais aventuras do que a maior parte dos adultos que conheço. Em seus
oito anos de vida na terra o Arthur ouviu mais canções e mais histórias do que
a maior parte dos adultos que conheço e através delas seu mundo foi sempre
repleto de significados. Uma vida só tem sentido quando é repleta de
significados e a do Arthur foi e seguirá sendo rica de sentidos, repleta de significados.
Diferente do que muitos
pensam, seu nome não foi escolhido porque era um nome bonito, ou por analogia com
o lendário Rei Artur. Essa brincadeira nasceu depois. Arthur se chama Arthur
porque o João, irmão mais velho, tem um amigo querido que se chama Arthur. Quer
simbologia mais linda que essa. Um nome emprestado de um grande amigo, como
quem diz: “Irmão, te quero amigo nessa medida!”
Hoje as brumas de Avalon se
abriram e nosso Arthur resolveu que era hora de viajar, viver novas aventuras,
revisitar amigos. Há muitos universos para serem explorados e ele sabe muito
bem disso, aprendeu nas histórias que em outras terras ele pode correr, virar
cambalhotas, dançar. Aqui, nesse planetinha, era difícil fazer tudo isso com
seu corpo frágil. Mas em Nárnia, no Sítio de Lobato, em Avalon, no Asteróide B612
ou em qualquer país mais distante, seu corpo, que agora é brisa, pode fazer
muitas piruetas.
Uma das últimas histórias
que lemos juntos, assim de pertinho (porque seguiremos lendo histórias pela
vida a fora), foi O Pequeno Príncipe e foi aquele menino frágil e pequeno como
ele que lhe ensinou muitas lições. É que criança entende língua de criança,
adulto é que complica a vida.
O Pequeno Príncipe sabia que
para voltar pra casa e reencontrar sua rosa precisava deixar sua casca aqui na
terra, pois ela era pesada demais para ser levada junto até o Asteroide B612. Sabia
também que não era preciso sofrer, pois, como disse ele, uma casca de árvore
não é triste.
O Arthur entendeu e acolheu a
experiência do amigo príncipe e quis se aventurar com ele. Eu, como mãe, acolhi
sua decisão. Há que se respeitar a decisão de um filho tão cheio de sabedoria.
Despedidas são sempre difíceis,
mas escolhi trocar a dor pelo amor, o sofrimento pelos bons sentimentos e
permitir que ele viajasse feliz, porque não deixamos de ser pai e mãe quando um
filho viaja, seja para a Austrália, seja para Nárnia.
Quando um filho parte, a
vida inteira se modifica, é preciso reorganizar rotinas, aprender novos hábitos
e abrir mão, ainda que por algum tempo, de alguns hábitos antigos.
Quando um filho parte, continuamos
sendo mãe e pai. Ser pai e ser mãe é um aprendizado constante, de uma vida
toda, porque os filhos crescem, aprendem, se modificam e nós crescemos,
aprendemos, nos modificamos junto com eles.
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