sábado, 9 de junho de 2018

SOBRE COISAS QUE POUCO FALO E QUE TAMBÉM ME CONSTITUEM (DIAS DE TEMPESTADE)


 
Escrevo a partir de quem sou, estou representada – algumas vezes mais, outras vezes menos - em tudo que escrevo. Mas falo pouco em palavras escritas, sobre quem sou, sobre esta eu que são muitas e que constituem uma Léla que se pretende lúdica, sempre.
Essa que me pretendo aprende e se recria todos os dias, a partir de todas experiências que a vida me oferece e que se tornaram muito mais intensas depois que tive filhos. O João, hoje com 14 anos, atleta, parceiro de conversas, cafés, músicas, séries de TV, filminhos no cinema, um filho amigão. O Arthur, hoje com 8 anos, nasceu pra ressignificar drasticamente o modo como pensávamos e administrávamos a vida. Tutuks nasceu com uma lesão encefálica extensa e com três meses começou um quadro convulsivo complexo e de muito difícil controle. Foram incontáveis internações hospitalares ao longo desses 8 anos, algumas mais longas, outras menos, muitas delas em UTIs Pediátricas. Aprendemos a administrar a vida nessas idas e vindas, com o máximo de leveza, apesar do cansaço físico.
Desde 2013, no entanto, não internávamos na UTI, apenas breves visitas à Enfermaria, para matar saudade das amigas das equipes de enfermagem, copa e higienização. Hoje, no entanto, nosso vulcãozinho entrou em erupção e não conseguimos conter as lavas que jorravam em forma de ondas cerebrais absolutamente desorganizadas. Voltamos para a UTI, com a esperança de que a estadia seja breve, mas com a consciência de que quando a hospitalização se faz necessária a única coisa certa é o dia da internação. Que tenhamos serenidade para trazer leveza a esses dias. 


*Essa que sou, mãe, professora, fisioterapeuta, contadora de histórias, escritora, dançante (não exatamente nessa ordem), estou com meu filho mais novo, Arthur, hospitalizado. Esse é o relato desses dias de tempestade, que escolho fazer da forma mais amorosa e serena que puder.
 

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