Faz um tempo que
li na internet um anúncio com três perguntas que me inquietaram e seguem me
desassossegando: (1) Já pensou em se tornar um palestrante? (2) Já pensou em
viver de palestras? (3) Quer aprender como construir um negócio de palestras
começando do zero?
Sempre pensei que
antes de tornar-se um palestrante viriam os estudos, os aprendizados, as
convivências e depois de muita experiência, aí então teríamos algo a partilhar,
que poderia ser num encontro, numa roda de conversa, numa oficina, workshop ou numa
palestra. Mas quando leio essas três perguntas fico com muito medo de um futuro
não tão distante, cheio de pessoas falando, sem nenhum conhecimento de causa,
sobre os mais variados temas. Ops, acho que esse futuro já chegou!!
Ano passado a
equipe da Secretaria de Educação de um município me questionou se eu faria uma
fala sobre cultura afro-brasileira ou educação indígena. Respondi que poderia
fazer uma oficina sobre contos africanos e indígenas, já que sou contadora de
histórias. Depois agradeci o convite e indiquei o nome de dois colegas que são
estudiosos nessas temáticas. Seria fácil fazer uma pesquisa e falar sobre um
desses temas, mas não tenho trajetória profissional com experiência suficiente
para abordá-los com propriedade.
Penso que ser palestrante
não é uma profissão, é consequência de um percurso de vida, com acúmulo de
conhecimentos e experiências que podem ajudar a ampliar o conhecimento ou
desacomodar outras pessoas, produzindo nelas inquietações que possam lhe
conduzir a novas experiências capazes de ampliar sensações, percepções e
conhecimentos.
Tenho visto muitas
pessoas investindo no “mercado de palestras”, principalmente para a “formação
de professores” ou de “seres humanos”. Isso me dá uma certa aflição. Chegamos
ao ponto de alguém ter que nos ensinar e nos treinar para sermos humanos, como
se isso fosse algo possível de ser aprendido na fala do outro e não nas
vivências cotidianas.
E nesse mercado, se
souber fazer graça no palco o cachê sobe. Será mesmo que as pessoas estão tão
anestesiadas que se alguém subir num palco para falar sobre saúde, educação,
política, relações de trabalho, ou outro tema relevante, o conteúdo do que é
apresentado é tão menos importante do que a forma? É claro que uma palestra ou
uma aula insossa dá sono na gente, mas não podemos tornar nossos espaços de
reflexão num “stand up comedy”.
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