Para aqueles que ainda não conhecem a questão, tramita em Brasília o Projeto de Lei nº 7.232, de 2017, de autoria da Deputada Erika Kokay, que propõe a regulamentação da profissão de Contador de Histórias.
A ideia original do
projeto, de valorização da profissão do Contador de Histórias, é boa. A grande
questão é a regulamentação, principalmente quando em seu artigo 2º o texto
propõe que para o exercício da profissão de Contador de Histórias “será exigido
curso de formação com fundamentação teórico-prática para o uso da literatura e
das técnicas de Contação de Histórias como instrumentos didático-pedagógicos no
processo de aprendizagem”.
O artigo 2º se
contrapõe ao Parágrafo Único do mesmo PL (que o antecede) e que diz que “são considerados
Contadores de Histórias os profissionais cuja construção do saber seja
desenvolvida no cotidiano de suas comunidades, em que a oralidade exerça papel
fundamental na preservação e transmissão do saber e das manifestações da
cultura popular”.
Observe que o
Parágrafo Único valoriza o fazer de todos os narradores, respeitando a
trajetória de cada um. O artigo 2º, no entanto, cria amarras e por isso provocou
uma grande mobilização e grupos de discussão Brasil a fora.
Acontece que, apesar
das muitas considerações, o grupo que encabeça o PL mostra-se na defensiva e as
alfinetadas, que foram se multiplicando (de todos os lados), vão se tornando espetadas
com grossas agulhas de tricô.
Semana passada foi
dito que apenas cinco estados estariam contra o PL. Não é verdade, o que
acontece é que nos estados os grupos não têm conseguido se mobilizar tão
rapidamente, uma vez que quase todos fomos pegos de surpresa. Sem falar que reuniões
presenciais para se discutir o texto, tornam-se onerosas para muitos contadores
de histórias que precisam deslocar-se de suas cidades até às capitais. Há ainda
outras questões, pois nem todos concordam em escrever um documento
representativo de um coletivo maior, porque não querem falar em nome de todos.
Além desta, outras situações vão se colocando, como os posicionamentos político partidários,
o fato de que uns vivem apenas da narração, outros não. E por aí vai...
O fato é que
deveríamos ser capazes de afirmar quem somos, todos nós, profissionais da
palavra, da narrativa, que nos constituímos no cotidiano narrativo e nos
aperfeiçoamos, com relação aos cuidados éticos e estéticos, através de estudos
e pesquisas contínuas.
Ao travarmos novos
embates, perdemos força. E, neste momento, tão frágil, para nós e para o país,
não podemos perder
a força, é momento de nos unirmos.
Os movimentos que
surgem para pedir que o projeto seja vetado, só surgiram pela falta de escuta e
de abertura ao diálogo. Não havendo abertura, nem tempo hábil, o que restou foi
pedir o veto.
É urgente que todos
conheçam o projeto e se manifestem, que participem dos grupos de discussão e
peçam ações efetivas que possam expressar o desejo da maioria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário