A
luta para que a Contação de Histórias seja reconhecida como profissão é a mesma
de tantos outros artistas. Se a pessoa diz que é ator, artista plástico, músico
ou contador de histórias, sempre haverá quem pergunte: Tá, mas qual a tua
profissão? Acontece que em nossa sociedade, artistas ainda são considerados
vagabundos, desocupados.
Quem
não produz arte não imagina que arte é também transpiração, não nasce apenas de
um sopro de luz divina que nos inspira. Quando se escreve um texto, mesmo que
ele tenha brotado de uma inspiração, há muita lapidação sobre ele para que se
torne um bom texto literário. Quando narra-se uma história, há que se ter
ouvido muitas histórias, lido tantas outras, pesquisado sobre o folclore e a
cultura de um povo, pensado na voz, no gesto, na intencionalidade.
Em
2012, a Deputada Federal Erika Kokay, que é comprometida com a cultura,
apresentou o Projeto de Lei n° 4005/2012, que propõe que haja a Semana Nacional
dos Contadores e Contadoras de Histórias. Acredite, mas o projeto ainda aguarda
designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da
Câmara Federal (CCJC).
Neste
ano, a Deputada Erika Kokay apresentou um novo projeto (Projeto de Lei n°
7232/2017), que visa regulamentar a Profissão dos Contadores de Histórias.
Acontece que o Projeto de Lei n° 7232/2017, nasce a partir do debate de um
grupo pequeno de Contadores de Histórias. Projeto este que já
foi aprovado na Comissão de Trabalho e é terminativo na Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania.
Embora
em sua página a Deputada diga que o projeto visa regulamentar a profissão e valorizar
a atividade do Contador de Histórias, sem o objetivo de burocratizar, o texto
do projeto, em vários momentos, justamente burocratiza e elitiza o fazer do
Contador de Histórias, excluindo muitos narradores que tiveram sua formação no
fazer cotidiano da oralidade.
Como
bem expõe o texto da Deputada Erika em sua página na internet, nós também
queremos “que os contadores e contadoras exerçam sua
profissão e sejam valorizados pelo seu saber, que não é um saber menor, posto
que é construído a partir dos fios da cultura e do imaginário popular”.
Por essa razão é que em vários estados do país
muitos Contadores de Histórias estão articulados para que haja um debate sério
sobre esta questão. Precisamos de valorização sim, mas não queremos correr o
risco de uma regulamentação que possa cercear ou excluir muitos narradores.
Precisamos de tempo para ruminar, nos
questionarmos com mais clareza e então contribuir. Estamos passando por um
momento politicamente frágil em nosso país, momento perigoso para decisões
apressadas, como tantas que tem sido tomadas em Brasília. Não podemos concordar
com uma lei que possa deixar tantos narradores de fora, precisamos primeiro
firmar melhor nossa identidade coletiva para só então construirmos pactos coletivos.
Por fim, como tão bem expressou o parceiro de
caminhada Warley Goulart, é “lindo sim ver tanta gente querida reunida em
vários pontos do país [debatendo os aspectos dessa lei]. Mas é uma pena
constatar que a faísca deste repentino encontro partiu de um sentimento
generalizado de desconfiança. Nossa atual mobilização não surgiu da união, ela
nasceu da desconfiança. E a desconfiança não é pessoal. A desconfiança está no
texto-base do projeto de lei em questão. Para nós narradores, a palavra oral
e/ou escrita tem importância sem tamanho, por isso acho preocupante que um
texto-base sobre este assunto tenha sido mal redigido e não tenha levado em
consideração delicadezas da nossa arte”.
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