Essa
semana circulou nas redes sociais a campanha “Somos todos Paralímpicos”, na
qual Cleo Pires e Paulo Vilhena aparecem com seus corpos modificados. O anúncio da campanha traz Cleo Pires na pele de Bruna Alexandre, atleta do tênis de
mesa, e Paulo Vilhena com o corpo de Renato
Leite, atleta da categoria vôlei sentado. O propósito da campanha, idealizada
pelos atores com o apoio do Comitê Paralímpico Brasileiro e dos atletas, é sensibilizar
as pessoas e atrair um maior público para as competições das Paralimpíadas, que
ocorrerão entre os dias 7 a 18 de setembro de 2016.
Nas redes sociais eu só ouvi
(com os olhos) críticas sobre a campanha e confesso que fiquei um tanto
perplexa com os ecos que ouvi. Logo pensei em escrever sobre a questão, mas
decidi primeiro perguntar a várias amigas que trabalham diretamente com pessoas
com deficiência (fisioterapeutas, fonoaudióloga e psicóloga) – sem dar a minha
opinião, é claro – o que haviam achado da campanha. Todas foram unânimes em
dizer que acharam interessante, que a ideia é bacana, que não se chocaram e
também não se sentiram incomodadas. Depois
foi a vez da enquete com meus estagiários do Estágio Supervisionado em
Fisioterapia e por fim, um bate papo com a minha turma de Fisioterapia
Neurofuncional II. De novo, a conclusão foi a mesma. Resolvi então, escrever
esse texto, para que a nossa percepção pudesse ser compreendida por outras
pessoas.
Queríamos (e queremos) que os
atletas paralímpicos tivessem o mesmo reconhecimento que tem os atletas
olímpicos como Usain Bolt, Michael Phelps, Simone Biles, Diego Hypólito, Marta
e Neymar. Mas não tem, ainda não!! Seus nomes ainda não são suficientes para
chamar um grande público. É pouco provável que as Paralimpíadas tenham a mesma
cobertura da mídia que as Olimpíadas tiveram. Que bom que essa campanha não
fosse necessária para dar visibilidade, que atores não precisassem emprestar
suas imagens para sensibilizar a população, mas é.
Não gosto do slogam
#somostodos..., mas a questão é tão mais profunda, que é difícil saber por onde
começar. Trabalho com pessoas com deficiência a cerca de 27 anos, sou
fisioterapeuta, professora e mãe de uma criança com uma grave deficiência
motora. Sempre me incomodou esse discurso do “inho”. O deficientezinho,
pobrezinho, sequeladinho, necessitadinho. Se não está no discurso está nas
atitudes da maior parte das pessoas.
Inclusão não se faz só nas
escolas. Inclusão se faz na rua, nas calçadas, nos hotéis, nos shoppings, nos
cinemas, nas livrarias, nas bancas de revistas e nas revistas. Na verdade, não
se faz, fica só no discurso do politicamente correto, mas na prática não se
faz.
Penso que as Paralimpíadas não
colam como colam as Olimpíadas porque grande parte da sociedade ainda não olha
para as pessoas com deficiência e veem nelas a potência. A deficiência ainda é
o que mais fica em destaque!! As Olimpíadas é o lugar da potência e as
Paralimpíadas também. As Olimpíadas é lugar de superação e as Paralímpiadas
também. Os (par)atletas não são super homens, super heróis, são pessoas, de
carne e osso, que dão o seu suor e o seu melhor para se superar dia a dia, com
todas as limitações não só físicas, mas econômicas, sociais e estruturais. Não gosto do
discurso que os coloca num lugar de não humanos, porque isso esvazia o discurso
e desvaloriza o que de fato são, pessoas incríveis, cheias de potência. Não são
“inho”, são “ão”, mas são humanos.
Além da campanha #Somos Todos
Paralímpicos, a edição de setembro da Vogue Brasil trará um ensaio
fotográfico protagonizado por Cleo Pires e o (par)atleta Renato Leite. Não acho que a edição de
setembro será uma campeã de vendas, mas acho ousado a Revista Vogue aceitar
realizar esse ensaio. Muita gente se sentirá incomodada, com certeza. Afinal, a
Vogue é uma revista voltada à beleza e seus padrões ideias. Mas muito cuidado com
suas percepções. Sabe aquele sentimentozinho de “que aberração”!! Pois é, não
precisa falar, só de sentir uma pontinha dele já mostra que você pensa em
inclusão só no discurso, porque se para você uma pessoa com deficiência não
pode estar na Vogue é porque você ainda pensa que ela só pode ocupar o espaço
do “inho”. #Fiqueatento!!
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