domingo, 21 de agosto de 2016

PARA O DO CONTRA, O BRASIL NÃO GANHOU NENHUMA MEDALHA (TEXTO DE LÉO CUNHA)

Para o Do Contra, o Brasil não ganhou nenhuma medalha.
Para o Do Contra, a medalha da Rafaela no judô não conta, porque ela é lésbica, ou porque agradeceu o apoio da Dilma num vídeo de 3 anos atrás.
Para o Do Contra, a medalha das meninas do iatismo não conta, porque é um esporte superelitizado e ninguém ali nunca passou fome nem precisou de bolsa-atleta.
Para o Do Contra, a medalha da Poliana na maratona aquática não conta, pois na verdade ela chegou em 4º lugar e só levou o bronze porque a francesa foi eliminada ao quase afogar sem querer querendo a italiana.
Para o Do Contra, a medalha do Felipe Wu não conta, porque ele fez saudação militar, e na última reunião dos DCAs (Do Contras Anônimos) foi aventada a hipótese do nosso atirador ser um japonês infiltrado.
Para o Do Contra, a medalha do Taekwondo não conta, porque é uma injustiça o Karatê, o Jiu-jitsu, o MMA, o Clube da Luta e o Te Pego Lá Fora não serem esportes olímpicos.
Para o Do Contra, a medalha do Robson Conceição não conta, porque boxe nem devia ser considerado esporte.
Para o Do Contra, a medalha do salto com vara não conta, porque a torcida vaiou o francês, fez macumba, xingou ele de bobo e fedorento. Além do mais, pra quê comemorar uma única medalha no atletismo? Melhor era não levar medalha nenhuma, para escancarar de vez a penúria do atletismo brasileiro.
Para o Do Contra, a medalha de ouro do futebol masculino não conta, mesmo sendo a primeira da história no futebol, porque os adversários eram fracos, o Neymar é um mimado sonegador, e o 7 a 1 nunca acaba.
Para o Do Contra, as medalhas da ginástica artística não contam porque vê lá se isso é esporte pra macho! Fora que esse ano o nível não estava grandes coisas, queria ver é eles ganharem medalha nos tempos áureos de mil novecentos e qualquer coisa.
Para o Do Contra as três medalhas do Isaquias não contam, pois de que adianta ser o maior medalhista em uma só Olimpíada na história do país, se nenhuma das 3 medalhas é de ouro? Como o Do Contra vai aplaudir um canoeiro de cabelo bizarro, se uma ilhazinha como a Jamaica gerou um Bolt, que ganha 3 ouros em 3 Olimpíadas seguidas? Ah, o Bolt é fã do Neymar? Não sabe nada, inocente, se ele soubesse que o Neymar é o fim do futebol brasileiro ele não aplaudiria o atacante do Barcelona, que aliás só ganha tantos títulos lá por conta do Messi (que nunca sonegou) e do Suarez (que nunca mordeu).
Para o Do Contra, a medalha do vôlei masculino não conta, pois o Bernardinho é um mala-sem-alça que ganha rios de dinheiro fazendo palestras de auto-ajuda. Como exímio pesquisador, o Do Contra já averiguou que nos outros países nenhum atleta ou treinador jamais cometeu deslizes no campo ético, estético, atlético ou profético, nunca forjou assaltos na madrugada, nunca falsificou credenciais, nunca dirigiu depois de beber. Portanto, tá liberado elogiar os ilibados estrangeiros e torcer pra eles.
Para o Do Contra, a medalha do vôlei de praia não conta porque... por que mesmo? Tem que ter algum motivo... Ah, sim, o Bruno Schmidt é parente do malufista Oscar Schmidt e do global Tadeu Schmidt.
No mau-humor, o Do Contra de esquerda e o Do Contra de direita se espelham e se irmanam. DoContrice é uma síndrome sem ideologia.
Aliás, o Do Contra de direita achou a abertura da Olimpíada vergonhosa pois destacou artistas petralhas comedores de criancinhas e engolidores de Lei Rouanet, como Chico Buarque e Gilberto Gil, e se o Drummond estivesse vivo também estaria usando estrelinha do petê.
Já o Do Contra de esquerda achou a abertura da Olimpíada ridícula pois o público do Maracanã vaiou o golpista covarde Temer durante apenas 15 segundos, quando deveria ter vaiado 4 horas seguidas, afinal o que é a saúde da garganta diante do grito rouco das ruas?
O Do Contra queria mesmo é ver o Brasil em 75º lugar no Quadro de Medalhas, posição mais condizente com o nosso IDH. 

Patrulhador convicto da alegria alheia, o Do Contra acha que só gente alienada e iludida ainda consegue sorrir, torcer ou comemorar qualquer coisa que seja, nesse paizeco eternamente dominado pela direita (ou pela esquerda), esse país que não tem nem nunca terá solução enquanto não forem adotados cegamente os ensinamentos sublimes de José Dirceu ou Olavo de Carvalho (Texto de Leo Cunha) 

Leo Cunha nasceu e vive em Minas Gerais, é escritor, 
tradutor, jornalista e professor universitário.

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