Valesca Reis Santos vem sendo considerada a “grande
pensadora contemporânea”. Sua relevância acadêmica é tamanha que após ser
citada inúmeras vezes em várias redações do Enem, receberá a Medalha Mérito
Pedro Ernesto, oferecida pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Você conhece Valesca Reis Santos?! Talvez a conheça pelo seu nome artístico,
Valesca Popozuda. Não posso avaliar o seu talento como artista porque conheço
pouco e não tenho afinidade com o funk. E não é porque não valorizo o que é
feito no Brasil (muito pelo contrário), pois gosto menos ainda do funk norte
americano. Acho que “ostentam” valores tortos. Não é esse mundo, nem esses
valores que quero para meus filhos.
Artistas, acreditam muitos, não tem o dever de
ocupar-se com questões éticas ou sociais, seu dever é distrair. Ocupem-se eles
da estética e do entretenimento! - Pensam essas pessoas. Esse modo de pensar
faz com que vivamos num mundo de pão e circo. Se é isso que a grande mídia faz
pensar, como educadores, precisamos repensar o que de fato acreditamos, que
futuro desejamos e qual será o nosso norte para nos aproximarmos dele.
Convivo com tantos artistas que respeito e
admiro, pessoas que acreditam na arte e em seu poder transformador. A arte
enquanto arte não tem uma função, mas o artista como cidadão tem
responsabilidade sobre o seu trabalho (embora não possa responsabilizar-se com
o que fazem com ele). A lógica do sucesso fácil, da ostentação, da estética
corporal acima do talento, em nada colabora para que nossos jovens acreditem
que vale a pena estudar, que vale a pena trabalhar, já que para ser “alguém”
reconhecido, ou para ganhar dinheiro, nada disso é preciso.
Sempre que converso com professores afirmo (por
que assim acredito) que a escola precisa ser o lugar da diversidade cultural. A
escola não precisa reafirmar o que a grande mídia mostra, porque ela já se
ocupa bastante disso. Nossos estudantes escutam os artistas que eles mostram,
mas para poder analisar se aquilo é bom ou ruim, é preciso que conheçam algo
diferente do que estão acostumados (e acomodados) a ver e ouvir. O professor
hoje tem acesso à internet, pode pesquisar, pode oferecer outras possibilidades
estéticas. Na música há um número imenso de artistas contemporâneos, de
diferentes estilos, que podem habitar o espaço da escola, ampliando a dimensão
do que é arte, das distintas formas de arte, da reflexão crítica a partir da
arte.
Opiniões a parte, embora eu não tenha
absolutamente nada contra a senhorita Valesca, essa condecoração precisa
provocar, no mínimo, uma reflexão. Se ela foi promovida a “grande pensadora
contemporânea” é porque algo não está sendo visto, é porque a nossa educação e
nossa cultura estão usando antolhos.
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