Das muitas memórias de infância que trago na
lembrança, estão as brincadeiras de “aulinha”, tanto aquelas em que eu brincava
de ser professora das minhas bonecas, quanto as que minha amiga Vanisse,
escrevendo com giz num pedaço de madeira, imaginava ser minha professora e de
seus irmãos. Não sei se as coisas aconteceram exatamente assim, mas são essas
as imagens que carrego na memória.
Talvez, porque meus pais fossem professores
apaixonados, ou porque o espaço escolar fizesse parte do meu mundo, desde muito
pequena, eu sempre quis ser professora. Também quis ser bailarina,
caminhoneira, publicitária, mas nunca deixei de me imaginar na personagem da
professora.
No ensino médio, cursei magistério e, entre as
professoras que me desafiaram a pensar o mundo para além das margens dos rios
que cercavam a minha cidade, estava Nara. Mulher imponente, com vozeirão
potente e sorriso largo. Lembro que, nas tardes quentes, Nara permitia que
tivéssemos aulas embaixo de uma árvore. Ter aula fora das paredes da sala de aula,
nos parecia muito revolucionário naquele momento.
Talvez, por ter crescido dentro da escola, por ter
tido pais professores e convivido com mestres inspiradores, os filmes que
contam histórias de professores apaixonados e revolucionários, sempre me encantaram.
Lembro, num único piscar de olhos, de filmes como “Ao Mestre com carinho”
(1967), “Conrack” (1974), “Sociedade dos poetas mortos” (1990), “O sorriso de
Monalisa” (2003), “Escritores da Liberdade” (2007), “Entre os mundos da escola”
(2008).
Os professores Mark Thackeray, Pat Conroy, John
Keating, Katherine Watson, Erin Gruwell e François Marin, personagens destes
filmes são fortes, revolucionários, inspiradores no seu modo de compreender o
mundo e nas metodologias que utilizavam. Embora todos eles tenham passado por
grandes desafios, nenhum enfrentou uma epidemia mundial.
Nossos professores, aqueles que moram fora das
telas do cinema e da TV, especialmente os que lecionam em escolas públicas, e
que, apesar dos desafios cotidianos da docência, deparam-se todos os dias com
condições precárias de trabalho, má remuneração (isso quando não tem seus
salários parcelados), falta de reconhecimento e de respeito pela sua trajetória,
pouco ou nenhum incentivo para qualificação profissional, são cobrados como se,
dentro e fora dos muros da escola, vivêssemos num universo paralelo.
Esses professores reais, estão ainda mais
sobrecarregados, precisando aprender a lidar com tecnologias que nunca tiveram
contato. Falo daqueles que tem acesso a alguma tecnologia, porque muitos não o
tem. E quando tem, precisam pensar em estratégias de ensino para alunos que
possuem e para os que não tem acesso à virtualidade. Só quem é professor, ou
convive com um, sabe o desgaste do acúmulo de tarefas inacabáveis, de cobranças
intermináveis, porque passam nossos professores neste período.
Não abrir as escolas durante uma pandemia, não é
preguiça, não é falta de vontade de trabalhar, porque todos estão trabalhando
muitas vezes mais do que se estivessem com suas crianças e seus estudantes em
sala de aula. Se a vida não está fácil para os estudantes e suas famílias,
tenha certeza que não está mais fácil para os professores, que além de
docentes, também são pais e mães.
O ano não estará perdido se chegarmos em 2021
vivos, com saúde e sem perder as pessoas que amamos. O ano só está perdido, até
o momento em que escrevo este texto, para os mais de cento e onze mil
brasileiros que morreram em razão da COVID-19 e para os outros milhares que
também partiram em razão de outras doenças.
Por isso, se você está vivo e com saúde, agradeça e
se esforce para fazer valer os trabalhos daqueles que estão dando o seu melhor
para que possamos passar por tudo isso sãos e salvos.
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