Minha mãe é
daquele tipo de gente que não sabe viajar sem comprar presentinho pra todo
mundo. Também adora fazer doces para agradar a família e os amigos. A ambrosia
e a rapadurinha de leite dela, por sinal, são as melhores desse mundo todinho. Acho
que herdei dela esse jeito de fazer carinho, através do alimento e das
pequenezas cotidianas.
Meu pai, por sua
vez, me ensinou a escutar música, a pesquisar na Enciclopédia Barsa (falo de um
tempo onde não existia internet) e a dançar twist. Ele também tinha por
hábito preparar ovo cozido com gema mole ou feijão com pão (adoro!) numa
cumbuquinha. Ou seja, meu pai era - e ainda é - um pãi.
Essas memórias são
da minha infância, embora minha mãe siga comprando presentinhos quando viaja e
fazendo as melhores rapadurinhas de leite e ambrosia do mundo todinho. Acontece
que, quando chega a adolescência, a gente precisa de espaço e autonomia para se
autoafirmar enquanto sujeito. Daí começa a inventar modos de se mostrar
diferente do pai e da mãe. Afinal, é preciso provar para o mundo que somos uma
pessoa única, diferentona. Essas
experiências vividas e sentimentos sentidos da fase da adolescência, só iremos
compreender em sua parcial totalidade, quando nos tornamos pais e mães de
adolescentes.
A vida segue seu
curso e quando nos tornamos adultos, especialmente depois que temos filhos,
sobrinhos ou afilhados, fazemos uma espécie de seleção daquelas qualidades que nos
agradavam em nossos pais e tentamos imitá-los. Algumas vezes acertamos, outras
escorregamos. E haverão aquelas características que, mesmo a contragosto, a
gente herda. Afinal, a fruta não cai longe do pé.
Trago essas
memórias, porque neste momento tão frágil, de distanciamentos necessários, cuidados
muitos, aprendizagens outras, precisamos aprender, entre tantas coisas, outros
modos de (con)viver, de estar juntos, de celebrar a vida. Fico pensando no quão
fundamental são as memórias afetivas para sustentar esse momento. Para
assegurar os laços, para dar sentido a este tempo que parece sem sentido.
Neste Dia das
Mães, não quero que meu filho saia de casa para comprar presentes. Também não abraçarei
minha mãe enlaçando-a em meus braços. Neste dia das mães, quero que presença e
memória façam-se abraço. Quero tempo para lembranças e para viver o presente em
suas delicadezas cotidianas. Quero dar e receber carinho que se faz através do
alimento, da música, do cuidado.
Que cada um possa
encontrar um modo de viver o tempo presente, porque o futuro é incerto, como
sempre foi. Sempre acreditamos que o horizonte estava lá e o que nos fazia
caminhar era a utopia. Perdemos o horizonte, mas não podemos perder a utopia.
Precisamos aprender a desenhar um outro horizonte, juntos. Mas para isso,
precisamos estar aqui, vivos. Cuidem-se!! Que neste Dia das Mães, o cuidado
seja o maior presente.
* A foto é da minha amiga Ludmila Faria Mendes (obrigada pela partilha, Lud)
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