Lembro como se
fosse hoje o dia em que meu pai chegou em casa com o disco “Último Romântico”,
do Lulu Santos. Eu tinha dezesseis anos
e era apaixonada pelo Lulu. Meu pai deixou o disco na porta da frente de casa,
tocou a campainha e correu pra ver a minha reação abrindo a porta.
Por que em meio a
uma pandemia de COVID-19, doença causada pelo mais recente coronavírus
descoberto, eu lembrei do meu LP do Lulu Santos?! Porque a primeira música do
lado A do disco é “Como uma onda”. E, nesses dias de quarentena e reflexão, faz
muito sentido cantar “nada do que foi será/ de novo do jeito que já foi um
dia. Tudo passa, tudo sempre passará”.
Acredito
verdadeiramente que na vida tudo é aprendizado, embora, às vezes, a gente
demore pra aprender a lição. No momento que escrevo este texto, é tempo de
aquietar e ficar na casinha. É preciso também não se deixar enlouquecer pelos celulares
que não param de apitar com a chegada de tantas mensagens que, se não
filtrarmos, ou nos colocam em estado de pânico, ou nos fazem pensar que está
tudo sob controle.
Calma, não estamos
à beira de um apocalipse zumbi, mas também não está tudo bem. Não é porque não
enxergamos esse monstrinho viral, que ele não existe. Não sejamos arrogantes. Que
possamos aprender com a experiência dos outros países, onde o coronavírus
chegou antes.
O Lulu e o
Nelsinho Motta, em “Como uma onda”, também escreveram assim: “tudo que se vê
não é igual ao que a gente viu a um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo.
Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora e aqui
dentro sempre como uma onda no mar”. Nossa organização cotidiana, nossos
planejamentos mudaram e seguirão mudando. É que tudo muda o tempo todo no
mundo. E não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora.
Toda experiência é
potencialmente ensinante, mas a gente tem que querer aprender com ela. Neste
momento, podemos aprender a colocar em prática aquilo que a gente sempre diz, mas
nem sempre faz, como lavar as mãos com frequência. Podemos aprender a ser mais
coerentes com as notícias que ouvimos, antes de passá-las adiante. Podemos
aprender que pânico não ajuda a combater o vírus e que se cuidar é cuidar do
outro. Aprender que as redes podem ser verdadeiramente sociais e que a ciência
feita por cientistas é importante. Aprender que a arte pode ajudar a aquietar o
coração e divertir as crianças em tempos de recolhimento. Aprender a criar
outros modos de viver e conviver. Aprender a respeitar os outros, inclusive um
vírus e seus companheiros.
Podemos aprender
muito com toda essa mudança em nossas rotinas, mas ela também pode provocar um
tsunami dentro da gente, se não soubermos levar com tranquilidade e sabedoria o
que virá pela frente. Há muita vida lá
fora, muito abraço pra ser dado depois que aprendermos a conviver mais
pacificamente com esse bichinho, assim como aprendemos a conviver e nos
proteger dos que vieram antes dele. É preciso calma para saber levar a vida nos
fluxos que ela impõe, num indo e vindo infinito, como uma onda no mar.
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