Eduardo Galeano conta que para os índios do
Novo México, o narrador, o que conta a memória coletiva de seu povo, seja ele
homem ou mulher, está sempre grávido, sempre “brotado de pessoinhas”. O Griô
(ou Griot), que também é um narrador, é um guardião de memórias, guardião da
cultura de um povo, e da palavra, que para ele é sagrada. Vivemos um tempo em
que a palavra deixou de ser sagrada. Aceleradamente vamos perdendo o sentido do
sagrado, da ética e do respeito pelo outro. Mas, neste tempo de incoerências,
polaridades, violência e intolerância, há que se encontrar guardiões que remem
contra a maré, para não permitir que nossas raízes sejam arrancadas e para
manter o solo fértil. É verdade que as palavras transformam o mundo, para o bem
e para o mau. Foram transformadoras as palavras de Gandhi, como também foram as
de Hitler. A retórica egocêntrica vem destruindo de amizades à possibilidade do
pensamento crítico. Vivemos uma epidemia
de umbigos inchados, dilatados, doloridos e doentes!! Vivemos um tempo carente
de líderes nos quais pudéssemos confiar e nos inspirar. Nos faltam líderes
políticos, espirituais, poéticos, musicais. Nos faltam griôs!!!
O griô é um contador de histórias, mas é também
um guardião da história de seu povo. É imperativo conhecermos a nossa história
para que saibamos para onde ir, para fazermos boas escolhas, ou ao menos
escolhas razoáveis. É necessário respeitar a cultura e a multiculturalidade. É
preciso conhecer-se e (re)conhecer o outro para que possamos ouvir antes de
julgar, para que possamos tentar compreender sem apedrejar. O mundo está
carente de gente que saiba exercer de modo amoroso o ofício do humano.
No dia 20 de março celebra-se em todo o mundo o
Dia Internacional do Contador de Histórias. O ofício do Contador de Histórias
vai além do lugar onde se contam histórias ou do modo como se escolhe narrar.
Há aqueles que abraçam a arte narrativa compreendendo que o seu fazer vai além
do entretenimento, há aqueles que nasceram com espírito de griô e que colocam
na sua arte o resgate da cultura, do folclore, das raízes, dos saberes, dos
afetos.
O mundo está carente de griôs!! Se você conhece
um Contador de Histórias, destes que carrega no seu fazer o espírito das
histórias, saiba que você vive mais perto de um mundo onde existe espaço para
todos, assim como para os bons afetos, para o resgate do humano pela palavra e pelo
encantamento pelo olhar.
Léla Mayer
Professora Universitária, Escritora e Contadora
de Histórias
Nenhum comentário:
Postar um comentário