O
ano vai acabando e fica um sentimento muito difícil de definir dentro do peito.
Sou grata a 2016, sobretudo pela saúde da minha família, que apesar das
lesões ósseas e ligamentares, das crises convulsivas, infecções controláveis e
do Alzheimer, tudo ficou dentro do limite do aceitável. Todos encerramos o ano
bem, com saúde e emprego. Conheci novos amigos e cuidei (na medida do que pude)
dos que tinha. Contei muitas histórias, publiquei um conto inédito, viajei,
trabalhei muito em tudo que amo fazer - e isso, sem dúvida, é uma bênção. Mas
quando levanto um pouquinho os olhos e vejo o vivido neste ano, me dou conta do
tanto pior que nos tornamos, nós humanos (humanos?). E tudo por vontade
própria, por intensão. Não por vontade de tornar-se melhor, mas de ver o outro
pior; não por vontade de ter mais, mas de ver o outro ter menos. Não por desejo
de justiça, mas por desejo de ver o desmonte da justiça. Ano em que a corrupção
tomou conta escancarada em todas as instâncias e dimensões. Queríamos que a
corrupção aparecesse, que não fosse mais jogada para baixo do tapete, mas ao
contrário disso, a corrupção vai sendo legalizada sob o aplauso dos que se
acham superiores, se pensam acima do bem e do mau. A quem recorrer, aos homens
e mulheres da justiça?! Não, pois eles também entraram no esquema!! A
democracia está em farrapos, a economia vai sendo destroçada pelos nossos
(des)governantes e os únicos que sofrem as consequências são os que menos tem,
os trabalhadores assalariados, os funcionários públicos. Porque os poderosos,
esses continuarão a se aposentar precocemente com suas regalias, esses
continuarão a receber seus auxílios moradia, escola, alimentação, viagem e
terno, além de seus altíssimos e vergonhosos salários. O cenário não é melhor
para quase todo o lado que se olhe, notícias regionais, nacionais e mundiais
sinalizam o caos, o desrespeito pelo humano, a falta de solidariedade, a
violência generalizada, manifestada das palavras aos gestos. Estamos piores e
nossos (des)governantes levantam suas bandeiras atacando a educação e a
cultura, desmantelando o estado que sustenta ainda uma mínima (mas muito
mínima) assistência à saúde, educação e segurança. E o fazem com o aval da
população que, cega, não se percebe atingida e quando perceber, será tarde
demais (já é tarde demais). Não sei o que pensar, não sei o que fazer, não identifico
esse sentimento que trago preso no peito e na garganta, mas desejo ardentemente
não perder a fé e a esperança - e também a força para lutar por elas. Que venha
2017!!
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