Conheço muitas
pessoas que não gostam de ir ao super mercado fazer compras. Eu, no entanto,
sou daquelas que sempre gostou. Pra mim, ir ao mercado era momento garantido de
encontro com algum amigo. Quando vou à minha cidade natal, adoro ir ao mercado,
à farmácia, à loja de ferragens, pois sei que vou encontrar algum conhecido ou
amigo de infância.
Difícil pra mim é
fazer uma comprinha rápida, já que é muito improvável conseguir ir ao mercado
sem ficar de conversa com alguém. Sou daquelas que, se deixar, puxa conversa
com a menina da fiambrería, faz aula com o senhor que organiza as frutas (ele
sempre tem dicas ótimas), troca receita com a moça do caixa.
Isso tudo, porém,
foi antes das idas ao mercado necessitarem de tanto cuidado, foi antes de
precisarmos nos afastar para mostrar que nos importamos com aqueles que amamos.
Agora, a gente vai às compras com máscara no rosto, e do sorriso vemos só os olhos
apertadinhos, a palavra é abafada, o abraço virou aceno.
Ontem eu fui ao
mercado, coisa que faço com muito menos frequência hoje em dia. Agora, vou às
compras torcendo para não encontrar nenhum amigo, porque é muito difícil
encontra-los e não poder abraçar. Mas, ontem eu fui ao mercado e, no meio das
compras, encontrei um grande e querido amigo, daqueles que o encontro foi
sempre uma grande celebração. Ontem, no entanto, eu congelei. Eu não sabia o
que dizer e o meu peito não sabia o que sentir. Eu não podia abraçar, não podia
enxergar o sorrisão, são sabia como celebrar a alegria do encontro sem as
ferramentas que sempre usamos.
Hoje, um outro
amigo querido escreveu uma mensagem dizendo que para ele, a grande dificuldade desse
tempo de quarentena é não poder abraçar as pessoas. Eu novamente congelei. Como era mensagem,
fiquei sem um emoji que expressasse o que eu sentia e sem palavra que
substituísse o emoji que não existia.
A ciência já
começou a desenvolver vacinas para que possamos aprender a conviver com esse
vírus, de modo que nosso corpo possa sofrer menos quando em contato com ele.
Mas a ciência não terá ferramentas para nos ajudar a lidar com as emoções desse
tempo.
Quando tudo isso
passar, precisaremos reinventar os afetos, reaprender a abraçar, pois o abraço
(ao menos por um tempo) já não será espontâneo como antes. Será preciso avaliar
os prós e contras de cada abraço.
Que a gente não se
perca, que saibamos nos cuidar agora do modo correto, que sejamos fortes para
manter os laços e sábios para reaprendermos a estar próximos, sem perder a
vista do horizonte que sustenta alguma utopia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário