sábado, 28 de maio de 2016

AMADORES


Minha breve visita a São Paulo, para o lançamento do livro “Contação de Histórias: tradição, poéticas e interfaces” (SESC/SP), foi cheia de momentos incríveis, de convivência com pessoas fantásticas e amorosas. Uma dessas muitas experiências incríveis foi assistir ao espetáculo “Amadores”, a convite dos meus queridos amigos Regina e José Calderoni. Foi uma experiência incrível! Justamente nesse momento histórico, em que testemunhamos lamentavelmente nossos artistas serem chamados de “vagabundos”, assisto a este espetáculo lindo e vejo a potência do Thiago Amaral no palco, na cadeira de rodas, depois de ter sido atropelado por um motorista embriagado a poucos dias. Naquele momento foi impossível não pensar em quantos empresários, funcionários públicos, quantos profissionais iriam trabalhar naquela condição? Como assim, vagabundo?! E as generosas parcerias que a peça proporcionou, na mistura entre atores profissionais e amadores?! Lindo demais! Lindo, reflexivo, emocionante, divertido!! Amei, simples assim!!
SOBRE O ESPETÁCULO
Amadores é um espetáculo teatral resultante da atual pesquisa da Cia. Hiato. Atores profissionais e artistas amadoes de diversas áreas (selecionados através de anúncios em jornal ou oficinas públicas) se encontram em cena. O que começou como uma entrevista, em que cada um deles exibiu suas especialidades e seus “objetos de arte” chega ao palco como um compartilhamento de experiências pessoais que questionam nossa relação com a arte e como nosso desejo por ela pode revelar nossa história, nossos desejos e nossas falhas ­ a desesperança, o anseio pelo, a falta de pertencimento.
O espetáculo é um relato poético, mas também um manifesto artístico. Uma galeria de retratos vivos. Um passeio por histórias e contextos que poderiam nos separar, mas que se aproximam em cena. Um evento que almeja o estabelecimento (ainda que só poético, porque tão distante da experiência real) de um palco sem divisões.
No palco, estes indivíduos são portadores de um discurso pessoal que os revela também socialmente: seja pela marginalização por questões raciais, de gênero ou sexualidade; seja por uma exclusão de classe (e, logo, geográfica, na cidade de São Paulo) ou por contextos culturais diversos. O trabalho, porém, não corre o risco de ser interpretado apenas sob um prisma social. Antes, o que se vê em cena é uma espécie de diálogo cênico que remove (ou, pelo menos, confronta) as distinções entre artistas e artesãos, profissionais e amadores, cena e política.
Não se trata apenas de colocar em cena pessoas cuja relação com a experiência artística é secundária ou cuja qualidade técnica é limitada, mas sim dar voz àqueles que são marginalizados das artes (como público ou como profissionais). É também a possibilidade de colocar em cena pessoas para quem o palco é o seu trabalho e aqueles a quem o palco nunca foi “permitido”.

Um comentário: