Minha breve visita a São Paulo,
para o lançamento do livro “Contação de Histórias: tradição, poéticas e
interfaces” (SESC/SP), foi cheia de momentos incríveis, de convivência com
pessoas fantásticas e amorosas. Uma dessas muitas experiências incríveis foi assistir
ao espetáculo “Amadores”, a convite dos meus queridos amigos Regina e José
Calderoni. Foi uma experiência incrível! Justamente nesse momento histórico, em
que testemunhamos lamentavelmente nossos artistas serem chamados de “vagabundos”,
assisto a este espetáculo lindo e vejo a potência do Thiago Amaral no palco, na
cadeira de rodas, depois de ter sido atropelado por um motorista embriagado a
poucos dias. Naquele momento foi impossível não pensar em quantos empresários, funcionários
públicos, quantos profissionais iriam trabalhar naquela condição? Como assim,
vagabundo?! E as generosas parcerias que a peça proporcionou, na mistura entre
atores profissionais e amadores?! Lindo demais! Lindo, reflexivo, emocionante,
divertido!! Amei, simples assim!!
SOBRE O ESPETÁCULO
Amadores é um espetáculo
teatral resultante da atual pesquisa da Cia. Hiato. Atores profissionais e
artistas amadoes de diversas áreas (selecionados através de anúncios em jornal
ou oficinas públicas) se encontram em cena. O que começou como uma entrevista,
em que cada um deles exibiu suas especialidades e seus “objetos de arte” chega
ao palco como um compartilhamento de experiências pessoais que questionam nossa
relação com a arte e como nosso desejo por ela pode revelar nossa história,
nossos desejos e nossas falhas a desesperança, o anseio pelo, a falta de
pertencimento.
O espetáculo é um relato
poético, mas também um manifesto artístico. Uma galeria de retratos vivos. Um
passeio por histórias e contextos que poderiam nos separar, mas que se aproximam
em cena. Um evento que almeja o estabelecimento (ainda que só poético, porque
tão distante da experiência real) de um palco sem divisões.
No palco, estes indivíduos são
portadores de um discurso pessoal que os revela também socialmente: seja pela
marginalização por questões raciais, de gênero ou sexualidade; seja por uma
exclusão de classe (e, logo, geográfica, na cidade de São Paulo) ou por
contextos culturais diversos. O trabalho, porém, não corre o risco de ser
interpretado apenas sob um prisma social. Antes, o que se vê em cena é uma
espécie de diálogo cênico que remove (ou, pelo menos, confronta) as distinções
entre artistas e artesãos, profissionais e amadores, cena e política.
Não se trata apenas de colocar em cena pessoas cuja relação com a experiência
artística é secundária ou cuja qualidade técnica é limitada, mas sim dar voz
àqueles que são marginalizados das artes (como público ou como profissionais).
É também a possibilidade de colocar em cena pessoas para quem o palco é o seu
trabalho e aqueles a quem o palco nunca foi “permitido”.
<3
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