domingo, 22 de junho de 2014

PALAVRAS TRANSFORMAM O MUNDO

 
Certo dia um homem sentou-se na praça de sua cidade para contar histórias para quem quisesse ouvir, porque pensava que suas histórias pudessem transformar o mundo. Muitos anos se passaram e o homem continuava a contar histórias, lindas histórias, muitas vezes para uma plateia inexistente. Hoje o homem sabe que suas histórias podem não transformar o mundo, mas são elas que permitem que o mundo não mude a sua essência. Essa história, que amo narrar, chama-se “O homem que contava histórias”, e está num livro de mesmo nome, de autoria de Rosane Pamplona.   
Acredito de fato que palavras são transformadoras. Cada um nós sabe bem o poder transformador (para o bem e para o mal) de um elogio e de um xingamento. E num período onde as tantas manifestações presentes nas mídias e redes sociais são de agressões verbais, é uma delícia participar de uma mobilização mundial que propõe uma ação social verdadeiramente pacífica e potencialmente transformadora.  Essa ação se chama “Histórias para mudar o mundo".
Dia 21 de junho, para muitas pessoas mundo a fora, é dia de acreditar que outro mundo é possível. É dia de acreditar que nossas ações e nossas palavras podem mudar o mundo. Não, não é dia de jogar o “Jogo do contente”, ensinado à personagem Poliana, no livro de Eleanor Porter (particularmente nem gosto desse jogo), é sim dia de ação verbal e transformadora.
“Histórias para mudar o mundo" é um projeto voluntário que nasceu no verão de 2010, organizado pela Rede Internacional de Contadores de Histórias/ International Storytelling Network/ Red Internacional Cuentacuentos (RIC), cujo objetivo principal é o desejo de intervir em nome de todos aqueles que sofrem qualquer tipo de discriminação no mundo. Assim sendo, todos os anos, no dia 21 de junho, a RIC promove a mobilização "Histórias para cambiar el mundo".
A proposta é convidar, chamar as pessoas que queiram participar desta celebração. Desta forma a RIC, rede da qual participo, convida todas as pessoas, narradores espontâneos, bibliotecários, professores, pais, avós, jovens, enfim, todos aqueles que queiram participar, para que narrar contos, poesias, causos, em diferentes locais. Toda ação é válida, mesmo que pequena. Você pode contar histórias numa roda de amigos, numa sala de aula, num hospital, numa praça, numa biblioteca, num centro cultural. Afinal, todo lugar é lugar para uma boa história.
Com estas ações estaremos multiplicando o efeito da celebração, procurando, por meio das histórias, criar uma nova realidade. Participar deste momento é nossa contribuição para a construção de um mundo melhor, mais sábio e sereno. A ferramenta será a palavra, mas não qualquer palavra. Não os xingamentos, não as agressões, mas a palavra poesia, a palavra conto, a palavra encontro.
Segundo Regina Machado (2004), “a atividade de contar histórias constitui-se numa experiência de relacionamento humano que tem uma qualidade única, insubstituível”. Nesta perspectiva, o ato de contar histórias é capaz de promover o encontro do humano com o humano (seus pares e sua essência). Para que esse encontro ocorra de modo significativo é preciso que a pessoa que narra e o seu parceiro de afetos (a pessoa que ouve) estejam em relação, numa dinâmica do afeto que permite à história abraçar a todos.
Vivemos num mundo carente de bons afetos e a arte de contar histórias, que pode ser traduzida também como a arte de estar com o outro no afeto, nos amplia possibilidades de sermos seres humanos melhores. Neste dia 21 de junho, una-se a essa rede de afetos e palavras e conte uma história. Lembre-se, as histórias podem mudar o mundo!!
   Valéria Neves Kroeff Mayer (Léla Mayer) 
Professora Universitária e Contadora de Histórias
Texto de Opinião publicado no Jornal Gazeta do Sul em 21/06/2014


terça-feira, 17 de junho de 2014

PORQUE CONTAR HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS

  Somos um país de poucos leitores e carente de leitura. Falo de leitura mesmo, aquela que lendo nos divertimos, aprendemos, crescemos. Aquela leitura que nos faz compartilhar afetos, estar junto com o outro para trocar ideias e histórias.
  Estimular a leitura não é uma tarefa fácil. Obrigar o filho a ler o livro da escola não é estimular a leitura. Obrigar as crianças a buscar um livro na biblioteca, sem orientá-las nas leituras apropriadas para sua potencialidade leitora, não é estimular a leitura. Estimular a leitura é brincar com as palavras, é ler junto, é inventar histórias, é fazer deste um momento divertido, mesmo que desafiador.
  Gosto de ouvir (com os olhos) o Caio Riter (2009, p.30), quando diz (escreve) que “passo importante para a formação de um leitor é ouvir histórias. Se possível, desde muito, muito cedo. Histórias contadas vão entrando na gente feito carinho, feito seiva em árvore que precisa crescer, desenvolver-se, a fim de dar flores, frutos, sombra. Leitores são árvores frutíferas. Familiares [e educadores] contadores de histórias são seiva que alimentam, que despertam o broto naquelas sementes carentes de tudo, que somos nós quando crianças”.
  É interessante observar como num mundo tão cheio de tecnologias, onde muitas relações se constroem e se sustentam no espaço virtual, onde o tempo parece correr num ritmo cada vez mais intenso e novas urgências surgem (ou são inventadas) sucessivamente, a narração oral vem sendo cada vez mais valorizada.
  Há muitas razões para justificar a valorização das narrativas orais nos dias de hoje, particularmente gosto de pensar que uma das causas reside no fato de que a arte de contar histórias é também a arte do encontro. Celso Sisto (2010, p.83) diz que “contar histórias aproxima, cria afeto, instaura o diálogo”. Num mundo tão virtual e repleto de tecnologias, parece que o momento da narrativa oral é um momento de encontro não só com a narrativa, mas também com o outro (narrador e ouvinte) em tempo real, num espaço real.
  Segundo Regina Machado (2004, p.33), “a atividade de contar histórias constitui-se numa experiência de relacionamento humano que tem uma qualidade única, insubstituível”. O ato de contar histórias, assim como brincar com palavras, em casa ou na escola, oportuniza o encontro em tempo real, entre a criança e a palavra, a criança e o imaginário, a criança e o adulto, a criança e seus pares. Creio que esta já é razão suficiente para sustentar a importância de contar histórias para crianças. Mas ouvir histórias vai além, desperta novas curiosidades, novos questionamentos, a disposição para a crítica, amplia o vocabulário e o desejo pela leitura.
  Por esta razão é que o Projeto “Conversa de Professor”, da Fundação Ecarta, tem se empenhado em levar essa discussão para muitos professores, pois como afirma Caio Riter (2009, p.16), “brincar com as palavras não é luta vã. Ao contrário, é condição essencial para fazer brotar em corações ainda ternos, ainda fechados aos preconceitos, o amor pela leitura, o desejo de descoberta”.
(Texto publicado no Jornal Extra Classe, do Sinpro RS, junho de 2014)

sábado, 14 de junho de 2014

À FLOR DA PELE REALIZA MAIS UMA ATIVIDADE (REPORTAGEM RIOVALE JORNAL - 14/06/2014)

Contação de histórias, com Valéria Mayer, foi realizada no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul (Reportagem Riovale Jornal, 14/06/2014).

O projeto À Flor da Pele, realizado pelo Riovale Jornal em parceria com o Presídio Regional de Santa Cruz do Sul realizou na tarde desta sexta-feira, 13 de junho, mais uma atividade. As detentas tiveram a oportunidade de participar da contação de histórias com a contadora Valéria Mayer, a Lela, que pela primeira vez participou do projeto.
A parceria visa tornar possível às detentas o acesso aos bens e serviços culturais, oportunizando ações como oficinas de dança, produção de textos e poesia, contação, pintura, entre outras. Também que estas tenham condições de participar criativamente da vida, além de focar na visibilidade das detentas para que todos reconheçam a realidade destas e sua existência, sendo pessoas que merecem atenção.
Para dar continuidade e amplitude à iniciativa já está projetado o lançamento de uma revista durante a Feira do Livro. Futuramente será efetivada uma exposição de artes plásticas. Todas as ações desenvolvidas pelo À Flor da Pele recebem apoio voluntário dos artistas.
 
CONTAÇÃO
A contação de histórias iniciou com a distribuição de palavras entre as detentas. Através destas, elas participavam criando uma história. No decorrer da atividade a alegria tomou conta de todas, sendo ao final uma narrativa com final feliz.
Entre as histórias contadas por Lela, havia reinos distantes, reis, príncipes, sacerdotes e monges. Entre as histórias contadas um debate sobre quem ganharia as terras que pertenciam ao reinado. No final a conclusão de que o melhor é se comunicar, seja do jeito que for. As demais histórias falaram sobre a verdade e a mentira e a lição repassada pelo jardineiro de que não somos um só, todos devem se unir, estar com as pessoas e compartilhar.
O encerramento da contação de hstórias ocorreu da melhor forma possível, Lela fez uma integração através de abraços, motivando todas se unirem. “As histórias contadas me marcam pela emoção e é difícil não chorar quando conto. O objetivo é plantar uma semente no coração de cada uma delas que vivem em um espaço restrito. É uma grande oportunidade poder levar este imaginário à elas, pois não temos como dimensionar e nem avaliar o que passam. Não conseguimos nos colocar e sentir a dor do outro. Contar histórias é poder perceber através do olhar do outro a emoção. Foi um encontro muito precioso. Levar histórias é levar uma emoção diferente.”
PARTICIPAÇÃO
Conforme a psicóloga Paula de Almeida, que atende as detentas, as atividades estão sendo totalmente positivas. “Sempre buscamos incentivar nelas o pensamento do que é ser mulher. A contação de cistórias foi mais um ponto positivo para todas elas que puderam falar de si mesmas e interagir, tanto que ao final demonstraram ainda mais interesse em continuar participando, inclusive combinando para virem nas próximas.”
Para uma das detentas a contaçãolembrou das histórias do avô. “Quando era pequena meu avô contava histórias e eu também adoro contar para me divertir e assim alegrar as outras.”
A história do jardineiro que com sua simplicidade conquistou as terras do reinado para os monges foi a que mais chamou a atenção de outra das participantes. “Gostei muito desta história. É um fato real que acontece no dia a dia das pessoas. Muitos querem tirar o proveito dos outros, mas o sol brilha para todos.”
Fotos e reportagem: Ana Souza
 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

PROJETO À FLOR DA PELE - CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA DETENTAS

Desafios que me desacomodam e me permitem novos aprendizados são sempre bem vindos. Foi pensando assim que aceitei o convite da querida Marli Silveira para participar do Projeto À flor da pele e fui neste dia tão chuvoso até o Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, narrar histórias para as detentas. Fui também ouvir histórias, abrir o coração, ampliar o olhar e a sensibilidade, exercitar a capacidade de não julgar e de ajudar. A experiência foi maravilhosa!! Espero, de coração, ter possibilitado momentos de potência e de liberdade.
 
 

SARAU DE LANÇAMENTO DO LIVRO DE RAZÃO

Simplesmente maravilhoso o Sarau surpresinha que esses queridos (Demétrio de Azeredo Soster, Fabi Piccinin, Simone Bencke, Eduardo Spall, Killy Freitas e Roberta Pereira) prepararam para o lançamento do "Livro de razão", do Demétrio, lá no Espaço Camarim, hoje à noite. Salve a poesia!!





 



 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

SOBRE A ABERTURA OFICIAL DA COPA DO MUNDO 2014 (I)


Não assisti à abertura da Copa do Mundo de 2014. Que booom!! Pois não entendi a participação da Jennifer Lopez, o Pitbull eu não faço a menor ideia de quem seja e a Claudia Leitte é a Cláudia Leitte. O chute inicial, mesmo que simbólico, do Juliano Pinto, que eu pensei que fosse acontecer no centro da Arena, foi num cantinho escondido (como pude pensar que seria diferente?!). O povo gritando xingamentos à presidenta, mostrando ao mundo a "beleza estética" dos nossos palavrões. Fala sério!!! Acho imbecilidade mostrarmos o nosso pior em educação e civilidade, quando o mundo todo está com os olhos em nós. Indignação por indignação não é indignação é ignorância!!
Ao meu ver, era só colocar uma Escola de Samba e estava tudo resolvido, o Brasil estaria representado ao menos em sua música, o carnaval (gostem ou não, somos também o país do carnaval) mostraria nossas belezas (as que gostamos mais e as que gostamos menos, mas ao menos mostraria o que é mais verdadeiro). Ao menos a música me representaria... Como fisioterapeuta continuaria frustrada. E como brasileira... Melhor nem falar!!

SOBRE A ABERTURA OFICIAL DA COPA DO MUNDO 2014 (II)

Em resposta a alguns argumentos sobre a abertura da Copa do Mundo 2014 com padrão de qualidade FIFA, onde fui esclarecida que é ela (a FIFA) quem determina tudo...  
Tá bom, tá bom!! Já entendi!! Então o padrão de abertura da Copa do Mundo é esse. Já entendi, Copa não é Olimpíada. Também entendi que existe um tempo, um número de pessoas, um tutorial a ser seguido e que embaixo de tudo aquilo existe um gramado, onde haverá um jogo de futebol uma hora depois. Mas eu não estava querendo uma Escola de Samba com carro alegórico, apenas algo que fosse mais representativo, apenas isso (não precisava os carros alegóricos, apenas o samba e os sambistas). Imagino então, que os alemães e os sul coreanos, assim como outros povos, também não tenham se sentido representados pelo padrão Fifa. Mas tudo bem, fazer o que...
Mas não, não entendi porque eu teria que engolir goela abaixo isso tudo e ainda achar bacana os preciosos segundos quase não registrados da ciência (Ah, tá!!! É Copa do Mundo!! E como no Carnaval, o resto tudo é irrelevante!! - Deve ser isso...) e a falta de educação mostrada mundialmente, daqueles (bem escolarizados - pra ver como escolarização e educação são coisas muitos distintas) que na hora que deveriam gritar e fazer acontecer para mudar alguma coisa, fazem muito pouco.
Não sofro de "complexo de vira-latas", me viro para fazer alguma coisa, na medida do que meu braço alcança, pela saúde, pela educação e pela imaginação das pessoas, portanto, faço algo para melhorar o país, além de pagar meus (absurdos) impostos, votar, opinar, exercer a minha cidadania (com certeza poderia fazer mais, sempre poderíamos). Por isso, posso pensar e manifestar, manifestos pacíficos e que possam contribuir e gerar reflexões, porque em bate boca eu realmente não me meto.

domingo, 8 de junho de 2014

ALEMÃO BATATA (I)

Numa conversa entre respeito, o João (meu filho de 10 anos), me perguntou de onde é que surgiu a expressão "alemão batata". E antes que eu pudesse pensar na resposta, ele lançou a sua hipótese: "É porque o bigode do Hitler parece uma batata cortada no meio"?! Posso?!!
 
 
 
 

sábado, 7 de junho de 2014

CARINHO DE PROFESSOR

Hoje comecei o dia com um presente, pois ser lembrada por um professor querido, não tem preço!!
O Jorge Trindade foi meu professor na graduação em Fisioterapia, lá na Feevale. Lá se vão quase duas décadas que este moço me inspira e desafia a um olhar mais ampliado. Hoje pela manhã, quando abri o Facebook, havia a seguinte mensagem do Jorge: "Então chego em casa, abro a caixa do correio e pego o meu jornal do SINPRO (Extra Classe Junho/2014) e tenho a grata satisfação de ver uma matéria assinada pela minha querida ex-aluna e colega Léla Mayer ...grata satisfação".
Tenho certeza que minha decisão de ser professora foi influenciada por alguns professores maravilhosos que tive e o Jorge foi um deles. Por isso, ser reconhecida e abraçada por seu imenso carinho só me dá a certeza de que tenho feito as escolhas certas.
Recorte feito pelo Jorge e postado hoje pela manhã

quinta-feira, 5 de junho de 2014

O LÚDICO COMO ELEMENTO TERAPÊUTICO NA PRÁXIS DO FISIOTERAPEUTA

Amei falar hoje a noite para a turma de "Fisioterapia Preventiva na Comunidade II", disciplina ministrada pela minha amiga Patrícia Oliveira Roveda, sobre "O LÚDICO COMO ELEMENTO TERAPÊUTICO NA PRÁXIS DO FISIOTERAPEUTA". Muitos dos estudantes desta disciplina já foram ou ainda são alunos nas minhas disciplinas aqui na UNISC (são meus também!! He! He!), mas falar para eles num outro contexto é sempre muito bacana. Obrigada, mais uma vez, pelo convite, Ticia!!
 








quarta-feira, 4 de junho de 2014

MENSAGEM POLÍTICA E POÉTICA PARA MEUS ALUNITCHOS (A CARTA)


A CARTA (DJAVAN)

Não vá levar tudo tão a sério
Sentindo que dá, deixa correr
Se souber confiar no seu critério
Nada a temer


Não vá levar tudo tão na boa
Brigue para obter o melhor
Se errar por amor Deus abençoa
Seja você
 
No que sua crença vacilou
A flor da dúvida se abriu
Vou ler a carta que o Biel mandou
Pra você, lá do Brasil:


"Eles me disseram tanta asneira, disseram só besteira,
Feito todo mundo diz.
Eles me disseram que a coleira e um prato de ração
Era tudo o que um cão sempre quis
Eles me trouxeram a ratoeira com um queijo de primeira
Que me, que me pegou pelo nariz
Me deram uma gaiola como casa, amarraram minhas asas
E disseram para eu ser feliz

Mas como eu posso ser feliz num poleiro?
Como eu posso ser feliz sem pular ?
Mas como eu posso ser feliz num viveiro,
Se ninguém pode ser feliz sem voar?

Ah, segurei o meu pranto para transformar em canto
E para meu espanto minha voz desfez os nós
Que me apertavam tanto
E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela
E sem o peso das algemas na mão
Eu encontrei a chave dessa cela
Devorei o meu problema e engoli a solução
Ah, se todo o mundo pudesse saber
Como é fácil viver fora dessa prisão
E descobrisse que a tristeza tem fim
E a felicidade pode ser simples como um aperto de mão
Entendeu?

É esse o vírus que eu sugiro que você contraia
Na procura pela cura da loucura,
Quem tiver cabeça dura vai morrer na praia."